Praticidade necessária?
Tudo começou quando o vídeo de um canudo sendo retirado da narina de uma tartaruga viralizou em 2015. Ou talvez com a quantidade de lixo produzido diariamente. Ou até mesmo, com as novas relações de consumo originárias dos meios de produção implantados na Modernidade. Com a lei sancionada no RJ, que obriga bares e restaurantes a oferecerem canudos de material reciclável, uma discussão sobre a necessidade dos canudos dominou as redes sociais e o cotidiano.
“Eu mudei meus hábitos há uns 2, 3 meses e comecei pelos canudos”. Gabriela Abrahamian, 19, descobriu todo o movimento a partir de perfis com uma vibe sustentável no Instagram. A estudante de jornalismo do Mackenzie conta que conheceu o Zero Waste, um projeto para diminuir o consumo de descartáveis e foi aí, que teve a certeza do estilo de vida que queria seguir. Além dos canudos, Gabriela dá preferência a produtos retornáveis e troca as praticidades do dia a dia por opções sustentáveis, como guardanapos de pano, copo retrátil, canudos reutilizáveis, desodorantes naturais, entre várias outros. “Todo mundo ficou me julgando e até hoje me julgam. Hoje em dia eu olho e penso: não tem porque não fazer, é super acessível”.
Já a Só Canudos, surgiu no começo de 2018, está localizada em Santo André e veio da ideia de lançar uma empresa ligada à sustentabilidade. Baseada em referências de países do exterior, a empresa traz para o mercado canudos de papel, metal e vidro. Douglas Negrisolli, 33, diretor comercial da marca e doutor em educação arte e história da cultura, conta que enquanto a produção de canudos plásticos faz 150 unidades por minuto, a máquina de papel faz 150 por hora, por isso que é um produto mais caro e com pouco investimento das grandes empresas. “A maior dificuldade de verdade, são os impostos”.
Douglas diz que muitas pessoas aderiram logo de cara, principalmente os papel e os de metal. Ele explica a viralização por causa da internet. “O canudo plástico começou uma revolução sem precedentes. Ninguém falava antes porque ele é praticamente invisível, mas o problema ambiental gerado é absurdo. A internet conseguiu valorizar o quão ruim é o nosso consumo, as pessoas começaram a entender que esse é um caminho sem volta”, conclui.
Alexander Turra, 45, professor do instituto oceanográfico da USP, aponta para o forte poder de comunicação dos canudos. “Ele representa, um pouco, uma reflexão sobre consumo”. A crítica do professor a toda essa mobilização é de que ela não aprofunda essa discussão na sociedade. “As pessoas aderem a essa onda por buscar a aprovação de um grupo e não necessariamente se discute as questões mais profundas e estruturantes”.
O professor não se mostra como um amante da lei aprovada no Rio de Janeiro. “A proposta de banimento se contrapõem a ideia de conscientização e mudanças de hábitos de consumo. É um atalho”. Quando questionado sobre as formas de trazer a questão para a sociedade, ele diz: “eu acho que na verdade, todos deveriam ser chamados para discutir essa questão, de forma a partir da compreensão dela com o problema, para que eles passem a ter atitudes dentro de uma garantia de livre escolha”. Alexander ainda conclui: “minha grande preocupação é o lixo no mar ser utilizado para atender as pirotécnicas oportunistas. O importante é fazer com que as pessoas repensem seus hábitos”.