Resenha: Bom dia, Verônica

“Bom dia, Verônica” é mais um original Netflix. Dessa vez, foi inspirado no primeiro livro da parceria entre Raphael Montes e Ilana Casoy, originalmente publicado com o pseudônimo de Andrea Killmore, pela editora DarkSide Books. A série brasileira conta com atuações e direção brilhantes que conseguiram abordar assuntos importantes e delicados sem banalizá-los. Além disso, o que também chamou atenção foi que devido ao ritmo rápido e intenso dos acontecimentos, nenhum segundo foi perdido, prendendo os espectadores durante os oito episódios.

A história segue Verônica Torres (Tainá Muller), escrivã na delegacia de homicídios de São Paulo. Certo dia, que a protagonista pensa ser comum, uma mulher sai desorientada da sala de seu chefe, Wilson Carvana (Antônio Grassi) e comete suicídio logo em seguida. Indignada com a negligência que a delegada Anita (Elisa Volpatto) e Carvana lidam com a situação, passa a investigar o caso sozinha. Ao longo do processo, descobre que se tratava de uma mulher que perdeu tudo após ter sido enganada por um homem que conheceu em um site de relacionamentos e que ela não foi a única.

Com o interesse da mídia no acontecimento, os repórteres vão atrás do quê e porquê aquilo aconteceu. A escrivã aproveita a audiência para alertar que se alguma mulher também passou por isso ou precisa de ajuda, pode procurá-la, pois ela iria ajudar. É nesse momento que Janete (Camila Morgado), vítima de um relacionamento abusivo em níveis extremos de seu marido Brandão (Eduardo Moscovis), um delegado contemplado por matar bandidos, anota o número e pede socorro. Ao conversar com Janete, Verônica percebe que a situação vai muito além de violência doméstica e que há indícios de Brandão ser um assassino em série.

A protagonista enfrenta diversas dificuldades ao investigar o caso sozinha. É vítima da burocracia, de uma corrupção policial, falta de apoio familiar e traição – alguns parceiros sendo “lobo em pele de cordeiro”. Além disso, ela se envolve muito com o caso, colocando a própria vida em risco.

A forma que a produção transparece um caso tão delicado com extrema cautela não transforma a dor em espetáculo. Expõe os mais diversos tipos de violência, principalmente as que parecem ser imperceptíveis, como a psicológica. Durante a vida toda, Janete foi extremamente manipulada e controlada pelo marido, sendo proibida de pensar e ver outras pessoas. Camila Morgado e Eduardo Moscovis desenvolvem a relação mais complexa da trama de forma impecável, conseguindo mostrar o sofrimento de uma mulher abusada e dependente de um manipulador, agressor e assassino, que é traumatizado desde a infância.

Ao mesmo tempo que a série mistura brutalidade, ação e suspense, aborda diversos assuntos importantes, principalmente o feminicídio. Diferente do livro, a adaptação é mais delicada e menos ousada do que o original, na maneira que desenvolve essas situações, se preocupando em apenas passar a mensagem e nada mais que isso.

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