Resenha: Ninguém Tá Olhando

Lançada em 2019 e produzida por Daniel Rezende, a nova série brasileira da Netflix “Ninguém Tá Olhando” traz assuntos complexos e intrigantes, com humor e inocência. A obra retrata a rotina do Sistema Angelus, os célebres anjos da guarda, e suas descobertas, problematizando tópicos comuns do dia a dia.

A série é composta por apenas 8 episódios de, aproximadamente, 25 minutos cada. Mas mesmo sendo curta, a narrativa consegue expressar todas as suas ideias de forma clara e ainda deixa brecha para uma segunda temporada.

A trama se baseia nas indagações de um recém gerado Angelus (anjo da guarda), Ulisses, interpretado por Victor Lamoglia, e sua tentativa de tentar entender a humanidade e suas peculiaridades, além de tentar compreender como o Sistema Angelus funciona.

Logo nos primeiros minutos da série são apresentadas quatro regras primordiais do Sistema:

  1. Cumprir a Ordem do Dia.
  2. Não aparecer para os humanos. 
  3. Não proteger humanos fora da Ordem do Dia. 
  4. Jamais entrar na sala do chefe.

As Ordens do Dia são pessoas, seres humanos, destinadas a serem protegidas por um Angelus (todo dia é gerado uma “ordem” nova) e a “sala do chefe” é a sala de Deus. Todas elas são quebradas por Uli em seu primeiro dia.

O roteiro como um todo é uma crítica social. Seja pelas característica físicas dos Angelus, sendo todos ruivos (não importa o tom de pele) ou pelo tamanho das asas (são todas pequenas), o que quebra os estereótipos que temos de “anjos”, como também pela forma em que o enredo é construído.

Os Angelus viveram por mais de 10.000 anos sem questionar o porquê das coisas, sendo assim, quando um díspar chega, a ordem das coisas começa a mudar. O primeiros a sentirem a mudança são os responsáveis pelo treinamento do recém chegado, Greta e Chun. Greta, Júlia Rabello, é uma das Angelus mais antigas e, quando as peças do quebra-cabeça começam a se desencaixar, é a primeira a quebrar todas as regras e ser “livre”. Chun, Danilo de Moura, mesmo sabendo a verdade, continua seu trabalho como forma de protesto.

Outra personagem importante e que deve ser mencionada é a Miriam, Kéfera Buchmann, uma humana fanática pelos signos e grande paixão de Uli. Ela é o gatilho da história, o motivo de Ulisses descumprir as regras. 

A inocência, o sarcasmo e a genialidade dos tópicos abordados fazem de “Ninguém Tá Olhando” uma obra nacional digna dos amantes de cinema.