Salvem as abelhas!
A criação de abelhas na cidade é uma alternativa divertida para preservação da espécie
Einsten uma vez disse que, se as abelhas desaparecerem, os seres humanos não durarão mais do que cinco anos na face da Terra. A extinção das abelhas pode parecer uma possibilidade distante, mas é uma realidade mais próxima do que imaginamos. Só nos três primeiros meses deste ano, mais de 500 milhões de abelhas foram encontradas mortas por criadores no Brasil, segundo dados da Agência Pública e da ONG Repórter Brasil. E esse número refere-se apenas às abelhas criadas por apicultores, sem contar as abelhas silvestres.
A maioria delas é vítima do uso indevido de agrotóxicos nas lavouras, feitos à base nicotina e fipronil, substâncias que, inclusive, já foram proibidas na Europa. O excesso de agrotóxicos contamina o mel que as abelhas produzem e afeta a comercialização dele. Porém, o maior problema da morte das abelhas é que elas são essenciais para a sobrevivência de 75% das plantas que alimentam os seres humanos, segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO).
Uma prática que tem se popularizado, na luta pela preservação das abelhas, é a criação desses insetos nas cidades, que pode ser feita mesmo dentro de apartamentos. “Essa moda iniciou-se na França, onde várias pessoas começaram a criar abelhas nos telhados dos prédios com o objetivo de ajudar na preservação dessas espécies e também para produzir o mel ali na região, para o próprio consumo. Eram uma subspécie mais mansa, que pode ser criadas em ambiente urbano, sem maiores problemas”, conta o pesquisador da Embrapa e doutor em Entomologia, Cristiano Menezes.
No Brasil, a espécie de abelha mais conhecida é a clássica amarela e preta, a africanizada. Ela é popularmente chamada de “abelha assassina” devido sua agressividade ao defender uma colmeia, por isso, não é uma boa opção para ser criada na cidade. A alternativa recomendada pelo pesquisador é a criação das abelhas sem ferrão, nativas do Brasil, chamadas de melíponas. “A atividade de criação dessas abelhas sem ferrão é chamada de Meliponicultura Urbana. A gente tem uma série de vantagens, em relação às abelhas africanizadas, na questão do meio ambiente. O primeiro fator importante é que estamos ajudando na manutenção da população das espécies nativas. Muitas dessas espécies tiveram seus números reduzidos por causa da diminuição do seu habitat natural, então a criação delas ajuda na manutenção da diversidade genética e das populações”, explica Cristiano. Como as abelhas brasileiras priorizam a polinização das plantas nativas, a criação delas também contribui para a preservação da nossa flora.
Algumas das melíponas se adaptam particularmente bem nas cidades. Como é o caso da jataí, que possui um mel bem valorizado. “Em qualquer lugar que você andar, inclusive no centro de São Paulo, você vai encontrar colmeias naturais dessas abelhas, geralmente instaladas nas paredes, nos postes, em árvores ocas. Elas são abelhas muito higiênicas, então vão produzir um mel floral bastante limpo nesses ambientes e como elas estão adaptadas ali, terão uma produção razoável. Uns 500ml de mel por ano, um volume razoável para o consumo de uma família”, descreve o pesquisador. Cristiano também explica que a jataí é uma das abelhas que é autossuficiente em ambientes urbanos e não precisa de muitos cuidados, basta manter as colmeias ao abrigo da chuva e do ataque de formigas.
Há duas formas de se adquirir uma colmeia. A mais rápida e eficiente é comprando uma colmeia de um criador, mas os custos são altos. Uma colônia vale por volta de R$ 300 e dependendo da espécie, até mais. Outra forma, mais em conta, é capturar um enxame com uma estrutura chamada ninho-isca. Ele pode ser feito com garrafa pet para simular o oco de uma árvore. Para atrair o enxame, passa-se uma solução de própolis no ninho-isca com o cheiro da colmeia da espécie que se quer capturar. No entanto, o processo pode demorar alguns meses.
Cursos de meliponicultura urbana estão disponíveis no canal de Cristiano no YouTube, além de dicas de como criar essas abelhas. “Quem experimenta o mel delas pela primeira vez nunca mais vai esquecer e, com certeza, vai querer uma abelha dessa na própria casa para produzir o próprio mel”, conclui o pesquisador.