Trilhos da impunidade
Desde segunda-feira (20) da semana passada, casos de ataques às mulheres nos arredores ou dentro dos metrôs – em estações como Vila Mariana, Ana Rosa e São Joaquim – vêm ganhando grandes proporções nas redes sociais. O único caso confirmado, o qual foi prestado um boletim de ocorrência na 2° DDM (Delegacia de Defesa da Mulher), foi o estupro acontecido, na última quarta-feira (22), na Estação Sacomã da linha 2-Verde do Metrô.
Segundo a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, as imagens das câmeras do local não ajudaram na apuração do fato, já que não confirmam o ocorrido. Ao tentarmos conversar com alguns dos seguranças da estação, fomos informados da não autorização a conceder entrevistas por parte deles, uma vez que o processo está sendo levado sob segredo de justiça.
Vitória Feresin, 19, estudante de enfermagem da Uninove, conta que todos os dias utiliza a Estação Sacomã para trabalhar e ir para faculdade. “Eu sempre frequento aqui sozinha, né? E sabendo do que aconteceu, nossa, fico com muito, muito medo mesmo. O pior é que não tem o que fazer, tenho que passar por aqui e eu fico pensando, se a gente fosse homem seria tudo mais tranquilo, como a gente é mulher, fica tudo mais difícil”.
Quando questionada se o metrô teria alguma responsabilidade pelo acontecido, a estudante afirma que sim. “Eu tô sozinha aqui faz um tempinho, se acontecesse alguma coisa comigo, ninguém saberia”. Ela conta também que não vê muito funcionário nas plataformas, “por isso que as coisas acontecem, não tem segurança nunca. O que aconteceu com a menina foi às 17h, eu passo por aqui esse horário e é sempre cheio. Qualquer hora a gente está propício para isso”.
Brenda Reis, 17, cursa o terceiro ano do ensino médio e trabalha há 6 meses ajudando deficientes visuais e dando informações no metrô Ana Rosa – às vezes transferida para a Praça da Árvore. Afirma que sente-se insegura nas estações por causa dos assédios e que vê muitos casos que são compartilhados no Facebook, “faltam muitos seguranças, são poucos”.
Noeli Louise Roberto, 20, e Marisa Rodriguez, 21, estudantes de moda da FMU Vila Marina, usam o metrô frequentemente. Contam que mesmo nunca tendo presenciado uma cena de tentativa de estupro ou assédio explícito, “dá pra perceber a atitude de muitos homens, que ficam muito perto das meninas, não respeitam o espaço pessoal”, afirmam. Noeli conta inclusive que já chegaram a tirar fotos dela em uma das viagens.
Marisa diz: “falta segurança no metrô e conscientização dos próprios homens”. Noeli ainda comenta sobre a ideia de um vagão feminino, já que devido à lotação, “pode ter 200 seguranças, não tem como evitar”. As meninas contam que a faculdade não se posicionou sobre os possíveis acontecimentos, mas que os alunos montaram grupos para as meninas andarem juntas. “A gente anda com medo, né?”