Foto: Shutterstock

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Um mundo diferente

As mudanças sociais, políticas e culturais causadas por pandemias

O ano de 2020 já está marcado na história humana. Nesse atípico ano, o mundo precisou lidar com a COVID-19, uma doença causada por um coronavírus até então desconhecido. Até o fechamento desta matéria, mais de 13 milhões de casos da doença haviam sido contabilizados e cerca de 570 mil pessoas perderam suas vidas ao redor do planeta. Durante o cenário de uma pandemia, diversos aspectos culturais e sociais passam por transformações. O uso de máscaras, antes restrito a instalações hospitalares, se torna cada vez mais frequente nas ruas e o álcool em gel se transforma em um objeto obrigatório nas bolsas e mochilas. Além disso, o ser humano precisou lidar com o isolamento social.

Mas apesar de já provocar mudanças perceptíveis, a COVID-19 não é a primeira pandemia a impactar a sociedade. Durante sua história, o ser humano precisou lidar com mudanças oriundas de pandemias ainda mais complicadas e em épocas em que a ciência e a tecnologia não estavam no mesmo estágio atual de desenvolvimento.

Peste bubônica (1347-1353)

“O triunfo da morte”, quadro que representa o caos durante a peste bubônica (Pieter Bruegel/Museo del Prado)

Considerada a mais devastadora pandemia da história, a Peste foi responsável pela morte de 75 a 200 milhões de pessoas durante o século 14. Causada por uma bactéria chamada Yersinia pestis, a peste matou cerca de ⅓ da população europeia na época. Para Nathália de Freitas, doutora em história pela Universidade Federal de Goiás (UFG) e professora do Brasil Escola, a peste negra provocou diversos impactos na época. “Foi uma situação catastrófica que provocou convulsões religiosas, sociais, econômicas e morte de milhões de pessoas”, explica a historiadora. A peste também alterou profundamente o sistema político, econômico e social da Europa, já que contribuiu para crise do sistema feudal e a consequente ascensão da burguesia. Com um pico de duração de seis anos, a Peste teve seus impactos e consequências estendidos por séculos.

Gripe espanhola (1918-1920)

Família durante a pandemia de Gripe espanhola. Foto: Wikimedia Commons

No final da década de 1910, o planeta precisou combater mais uma pandemia: a Gripe Espanhola. Causada por uma mutação do vírus influenza, a doença vitimou mais de 50 milhões de pessoas pelo mundo. No Brasil, também causou mortes e esteve presente em um agitado contexto social. “O vírus influenza chegou no Brasil em 1918, período da República Oligárquica, época que o presidente Venceslau Brás governava o país. Era um contexto agitado. Muitas revoltas estavam acontecendo, atuação de vários movimentos operários, greves gerais e o fim da I Guerra Mundial”, explica Nathália. Após o fim da pandemia em dezembro de 1920, a saúde pública passou a ser mais valorizada e eventos com grandes aglomerações, como o carnaval, se tornaram ainda mais frequentes, já que por dois anos, o distanciamento social havia sido recomendado pelas autoridades de saúde.

COVID-19 (2020)

Foto: Thomas Peter/ Reuters

Em termos estruturais, ainda é cedo para apontar o que a COVID-19 provocará na sociedade, mas já é possível identificar alguns traços que mudarão no cotidiano da população mundial. “Certamente a pandemia de COVID-19 já está carregada de mudanças de posturas e novas ainda virão. Transformação sistêmica em diversas relações de produtos e serviços, novas maneiras de fazer as tarefas como home office, EAD, escritórios menores, distanciamento e redes sociais”, exemplifica Nathalia. Porém, segundo a professora, um triste traço social e político já foi revelado nesses meses de pandemia. “O descaso do governo em relação às pessoas de baixa renda, pessoas que precisam do transporte público, acesso a exames e assistência do poder público”, lamenta a historiadora.

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