Um ode ao sabor
Minha mãe sempre demonstrou uma coisa: sua paixão pela culinária. Aprendeu a cozinhar desde muito pequena, vivenciou por anos a rotina desgastante e infernal de uma cozinha profissional em um restaurante mas, mesmo assim, faz toda a questão de exercer seu amor pela arte da comida sempre que pode. Nesses meses de confinamento, esse amor ficou ainda mais evidente e intensificado.
Apesar de ter presenciado essa cena por mais de duas décadas, eu nunca havia parado para perceber os pequenos detalhes do processo imaginativo que existe dentro da paixão de minha mãe pela gastronomia. Os temperos, cuidadosamente separados, dão uma infinidade de sabor àquelas texturas. Os cortes, feitos com o máximo de cuidado por utensílios brilhosos e afiados, demonstram um carinho difícil de mensurar. Até mesmo o controle do fogo, algo pouco lembrado, interfere diretamente no resultado final.
Em poucos minutos, é impossível não se atrair pelo aroma que, felizmente, está impregnado em todos os cantos da casa. Rapidamente, a mesa fica lotada e mais um almoço de domingo se inicia.
E o que falar das sobremesas? Minha mãe, que nutre uma paixão ainda maior por tudo que tenha açúcar, consegue misturar todos os ingredientes doces possíveis com uma mistura de amêndoa e cacau e tornar tudo gostoso. Nem muito doce, nem muito enjoativo, apenas gostoso.
Desde toda a preparação até a sua finalização, a culinária se mostra como uma arte, um produto que ultrapassa o tempo e tem o poder de representar muito mais uma cultura do que se pode imaginar. Parafraseando Millôr Fernandes, “gastronomia é comer olhando para o céu”, mas complementando o poeta, gastronomia é vida.