Um Oscar para a representatividade
A representatividade negra aumenta no Oscar 2019
A primeira mulher negra a ganhar o Oscar foi Hattie McDaniel (1895-1952), em 1940, na categoria de melhor atriz Coadjuvante por seu papel em “E o Vento Levou”. A equipe do evento precisou pedir uma autorização para que Hattie pudesse participar da premiação no Ambassador, uma vez que o hotel proibia a entrada de negros no período. A atriz teve que se sentar em uma mesa afastada dos outros convidados e indicados, mas fez história ao levar para casa sua estatueta de peso histórico e social.
Casos de racismo velado ou muita das vezes não velado, acompanham a sociedade americana em sua história. Em sua 91ª edição, o Oscar de 2019 trouxe uma mudança significativa e necessária para o audiovisual e o entretenimento na atualidade com o crescimento da representatividade negra. Mas antes é importante contextualizar as edições anteriores e entender essa alteração no Oscar desse ano.
Em 2016, a #OscarsSoWhite ganhou destaque mundial nas redes sociais após o diretor Spike Lee criticar a falta de diversidade entre os indicados naquele ano. Em um comunicado em seu Instagram, ele publicou: “Nós não podemos apoiar isso e eu não quero desrespeitar os meus amigos, o apresentador Chris Rock, o produtor Reggie Hudlin, a presidente Cheryl Boone Isaacs e a Academia. Mas, como é possível pelo segundo ano consecutivo todos os 20 candidatos na categoria de ator serem brancos? E não vamos nem entrar em outros ramos. Quarenta atores brancos em dois anos e nenhuma personalidade. Não podemos atuar?”. Lee não participou da cerimônia e recebeu o apoio de artistas como Will Smith e sua esposa Jada Pinkett Smith.
Já em 2017, a Academy Awards promoveu uma presença maior de atores negros concorrendo em todas as categorias pela primeira vez na história. A vitória de Viola Davis, como melhor atriz coadjuvante no mesmo ano com o filme “Um Limite Entre Nós”, também veio carregada de significado, já que foi a primeira mulher negra a ganhar Oscar, Emmy e Tony, ou seja, premiada em cinema, TV e teatro. Além disso, a premiação revelou grandes obras cinematográficas como “Moonlight: Sob a Luz do Luar”, do diretor Barry Jenkins.
Mas afinal, por que 2019 será tão importante? Mais do que continuar com essa transformação, o ano trouxe algo diferente: filmes com temáticas raciais, super-herói e diretores negros indicados. As promessas nesse quesito são: “Infiltrados na Klan”, “Green Book: o Guia”, “Pantera Negra” e “Se a Rua Beale Falasse”.
O professor doutor de jornalismo da USP, Dennis de Oliveira, de 55 anos, comenta que não há fronteira entre o entretenimento e a função social. Para ele, qualquer narrativa tem compromissos éticos: “O Oscar é uma grande festa da maior indústria cultural do mundo, que é Hollywood. Em função das pressões do movimento negro que fez visibilizar a diversidade e as tensões raciais, para manter sua legitimidade, a indústria cultural precisa estar conectada a estes fenômenos. Por isso que há a presença maior de negras e negros. Penso que este aumento da visibilidade recente é uma resposta a pressões. Acho que é um passo importante no sentido de valorizar o trabalho desses profissionais. Porém, como disse anteriormente, há uma diferença entre visibilidade (que se centra na representatividade em espaços de visibilidade) e representatividade mais ampla (que inclui os espaços de poder). Os dirigentes e comandantes da indústria cultural hollywoodiana continuam sendo quase que somente brancos”, analisa.
A representatividade não deve estar apenas em frente às câmeras, mas também por trás delas, por exemplo, nas indicações de negros entre as diretoras e diretores, os roteiristas, os produtores e a própria Academia. A cronologia não mente e a linha do tempo pode nos mostrar a evolução.
Belíssima e verdadeira reportagem. PARABÉNS.