Uma imagem vale mais do que mil palavras
Entenda como o Cinema conta uma história muito além de seu roteiro
Durante o processo de criação e produção audiovisual, um conjunto de elementos são considerados para que toda a história possa ser estruturada e compreendida. No Cinema, a narrativa não é construída apenas pelo roteiro. “A linguagem cinematográfica é exatamente o que você quer mostrar com o filme, você pensa muito no público”, garante Luciana Stipp, 37, sócia fundadora, produtora e diretora executiva do Latin American Film Institute.
Duas décadas atrás, A Bruxa de Blair chegava aos cinemas com uma proposta um pouco diferente dos títulos de mesmo gênero. Com um orçamento relativamente baixo, estilo de filmagem caseiro e rostos completamente desconhecidos sob os holofotes, os diretores Eduardo Sánchez e Daniel Myrick conseguiram aterrorizar seus espectadores com uma figura que nomeia a trama sem nunca aparecer em tela. Ao público, resta questionar-se, afinal, de onde surge o medo se a ameaça sequer foi vista.
O longa de Sánchez e Myrick não foi o único, nem tampouco o primeiro, a brincar com os sentimentos e a imaginação de seus espectadores. Na verdade, quando estamos diante de qualquer manifestação artística, seja ela um filme, uma série, ou uma peça teatral, aceitamos imergir numa história que vai muito além de palavras. “A gente trabalha com a mente das pessoas. O Cinema induz o pensamento”, afirma Stipp.
A linguagem deve ser trabalhada em vários campos. No caso da direção, o documento “Linguagem” é responsável por guiar o restante da equipe. “Tudo vem do diretor. Ele vai dar alguns caminhos na arte, na fotografia, na trilha, para que possa ser contada uma mesma história. Não adianta a arte querer fazer um filme que o diretor não está pensando, por exemplo. Ele vai nortear. E, com essa Linguagem feita, a fotografia vai traduzir nos planos e imagens a sensação que deve ser passada com a história”, explica a produtora.
Luciana também conta que: “Todos os elementos de arte em um Set devem contar a primeira narrativa, que é o roteiro. A gente vai agregando em cada área os elementos que, inconscientemente, são percebidos pelo telespectador”. A fotografia, por exemplo, é essencial para caracterizar uma narrativa. “Ela vai traduzir nos planos e imagens a sensação que deve ser passada com a história. Então, quando você faz um filme de Suspense, a fotografia vai definir o tipo de imagem que passa essa ideia. ‘Será que é interessante eu colocar planos mais fechados no rosto do vilão?’ Ou um filme sobre depressão, que tipo de plano eu posso pegar? Eu posso pegar planos gerais de cima e deixar a personagem bem pequena em um canto”.
Outro fator importante no Cinema é a arte traduzida pelas cores. Stipp conta que a Psicologia das Cores está extremamente associada à Sétima Arte, de tal forma que, elementos vermelhos ou pretos, por exemplo, podem relacionar o momento da trama à morte, assim como, no caso do vermelho, pode ser traduzido também como calor, paixão e amor. Tudo será definido pela maneira como todos os elementos são construídos e organizados. A combinação de cores com uma trilha sonora específica pode traduzir diferentes ideias. Assim como, quando utilizada uma iluminação específica, pode dar margem para outras tantas interpretações. “Quando alguém está assistindo a um filme e ‘sente’, isso acontece porque a arte trabalhou, a luz trabalhou, a foto trabalhou para causar esse sentimento”, afirma Stipp.
A utilização constante de determinados elementos, como uma trilha sonora épica para uma aventura, cores quentes para um romance, pouca iluminação para o terror, são essenciais para que o gênero funcione. Dessa forma, a repetição desses fatores consegue causar no espectador certa familiaridade com o que está prestes a acontecer.
Quando sentados em uma poltrona de cinema, a audiência não percebe que, a todo o momento, está recebendo e captando mensagens, e por mais de um sentido. “Para o público leigo, isso é mais instintivo, não racional. Quem estuda e trabalha na área vai prestando atenção em um elemento e linkando. A ideia é colocar o máximo de elementos que você ache interessante, para que inconscientemente o público possa entender e sentir. Se o espectador parar para pensar, vai chegar a algumas respostas. Mas no momento em que o filme acaba, ele não sabe porquê sentiu tudo o que sentiu”, conclui Luciana.