Uma relação entre consumo e desperdício
O capitalismo como porta de entrada para os desafios do século moderno
Na história, os burgos eram pequenas cidades que tinham uma inclinação para o comércio e a classe que trabalhava lá era chamada de burguesia. Neste contexto, da Baixa Idade Média, séculos XIII ao XV, dá-se início ao capitalismo até tornar-se o modelo do século XXI. O ato de consumir acabou gerando o consumismo, considerado uma entre as consequências decorrentes do sistema econômico.
Segundo dados divulgados em 2018 pelo G1, de 1.090 entrevistados, homens e mulheres acima de 16 anos, 76% não praticam o consumo consciente. “O consumo na humanidade é algo natural para satisfazermos as nossas necessidades, já que, estamos inseridos numa lógica capitalista, que é o de trabalhar para consumir. Desde comida, viagem, curso até roupa, tudo é uma forma de consumo”, conta Mariane Abreu, psicóloga e pós-graduanda em Terapia Cognitivo Experimental. “Quando aconteceu a Revolução Industrial, ele [o consumo] passou a fazer parte da nossa vida, apesar de existir muito antes disso, ali fica mais aparente. A gente passa a consumir muito mais e isso se torna comum”, acrescenta.
O consumo em excesso pode fazer mal, tanto para o indivíduo quanto para o ambiente ao seu redor. Suas consequências abrangem problemas financeiros, perda de significado das coisas, problemas nos relacionamentos e a degradação do meio ambiente, devido ao descarte daquilo que supostamente já perdeu a sua utilidade.
Entre os danos, também existe o transtorno chamado “Oneomania”. Mariane explica como ele acontece e como pode ser diferenciado: “Quando o indivíduo chega em casa e acaba de comprar tudo que viu no shopping, no supermercado, em qualquer lugar, ele sente muito sofrimento e tem um desinteresse por aquilo que comprou e é isso que vai diferenciar o consumo em excesso e a pessoa que está se sentindo bem”. E pontua: “Se alguém consome em excesso, consegue pagar e viver bem com isso, ok. Mas quando ocorre o contrário, ele se sente mal porque comprou, isso já é um transtorno”.
Os tempos são outros. O mundo progrediu em termos de demanda, produção e tecnologia, são empresas de linha telefônica com a promessa de uma internet mais rápida, celulares de última geração que não travam e seres humanos que querem tudo para agora e não sabem esperar. É a cultura do imediatismo.
Questionada sobre a existência de uma relação entre o consumo e o imediatismo moderno, a profissional em psicologia opina: “Não acredito que esteja tão relacionado com a cultura do imediatismo. Creio que esteja com uma forma de nos mostrarmos para o mundo. O consumir faz com que pertençamos a certos lugares, que nos sintamos bem em tal roupa, com determinado eletrônico, possuindo um quarto de tal forma reformado e um apartamento em tal local”. E acrescenta: “Isso dá um status para as pessoas”.
O dinheiro pode proporcionar luxo, conforto e uma satisfação momentânea. Porém, será que há lugar para a felicidade entre essas vantagens causadas pelas cédulas? A psicóloga menciona a frase “O dinheiro não traz felicidade, mas compra”. “Acredito que ela tenha o seu fundo de verdade, pois na sociedade em que estamos inseridos hoje, nós dependemos do dinheiro para tudo. Com ele, não consumimos só aquilo que é considerado supérfluo, [nós] podemos comprar uma boa cama, um plano de saúde, alimentação, educação e viagem que é um descanso e lazer”, conta Mariane. “O dinheiro não traz felicidade, porém, a falta dele traz infelicidade, isso com certeza é algo certíssimo. Como vamos viver bem, se não temos acesso às coisas? […] Não como uma relação de causa e efeito, mas o dinheiro contribui, influencia muito nesse aspecto de ter felicidade ou não”, conclui.