Cara a Cara: Klébio Damas

De Itaperuna para São Paulo, o influenciador Klébio Damas conta como foi sua trajetória até o sucesso

Todo adolescente sonha com sua independência. Seja saindo de casa, passando no vestibular ou até mesmo tirando sua habilitação. Klébio Damas abriu seu canal no YouTube com apenas 17 anos e hoje, com quase 24, conta com mais de 1 milhão de inscritos.
De resenhas sobre livros até empoderamento, Klébio passou por altos e baixos até se encontrar. Conversamos com o Youtuber para entendermos mais como foi essa transição. Confira a seguir!

WHIZ: Para você, como foi a experiência em começar tão novo no YouTube?

KD: Começar no Youtube cedo foi bem complicado em alguns quesitos, mas em outros muito bom. Um deles foi meu psicológico, porque eu não estava preparado para ouvir uma enxurrada de pessoas dando opinião sobre minha vida. Quando comecei lá atrás, falava sobre cultura pop, filmes, séries, então imaginava que as pessoas fossem falar sobre isso. Mas não, começaram a falar sobre mim, me atacar, e isso foi bem complicado. Cheguei a chorar ouvindo comentários de haters, mas fui aprendendo. Uma coisa que acho muito boa foi ter amadurecido muito rápido. Querendo ou não, comecei a ganhar dinheiro no Ensino Médio ainda. Já estava contratando funcionários, abrindo a minha empresa, criando uma CNPJ, e tive que ser emancipado. As coisas aconteceram rapidamente e eu me sinto muito mais maduro hoje. Tem o seu lado ruim, o psicológico, mas tem seu lado bom, o amadurecimento.

WHIZ: Seus primeiros vídeos no canal foram exclusivamente sobre livros e sua paixão por literatura. Você voltaria de alguma forma a produzir esse tipo de conteúdo?

KD: Acho que não voltaria a ser um canal 100% disso, mas faria alguns vídeos pontuais. Hoje em dia não falo muito no YouTube, acho bem complicado. Meu público já cresceu muito e o foco hoje é empoderamento LGBT, esse é o meu nicho e não tenho a pretensão de mudá-lo, pelo menos a curto prazo. Mas no Instagram acho super viável, inclusive já fiz alguns vídeos no IGTV. Agora estou começando um projeto por lá, com algumas listas de cultura pop, como cantores, filmes, séries e livros. Então, provavelmente, agora vocês vão ver alguns vídeos sobre, mas no Instagram.

WHIZ: Publicidade e Propaganda sempre foi sua primeira opção? O que o levou a escolher esse curso?

KD: Não foi, já quis fazer bastante coisa, mas quando estava no ensino médio queria fazer medicina. Sim, nada ver. Sempre gostei muito de biologia, geografia, português. Mas a real é que entrei em Publicidade por conta do Youtube, o canal começou a dar certo, comecei a ganhar dinheiro e a descobrir esse mercado. Eu morava no interior e, para você ter noção, nem tem agência na minha cidade. A publicidade é feita em outdoors, basicamente, então as marcas não tem planejamento e toda essa questão. Não era algo que via como viável e assim que comecei o canal, descobri que era bem autodidata na área e resolvi fazer para implementar no trabalho que já faço, na empresa que já tenho e ir melhorando.

WHIZ: Sair do interior e ir para a cidade grande nem sempre é fácil. Se lhe fosse dado a oportunidade, voltaria? E por quê?

KD: Não, acho que tudo o que fiz no meu caminho foi certo, não tenho a pretensão de voltar para o interior agora. Acho que São Paulo é uma cidade muito boa para trabalhar, tenho a intenção de ficar aqui ainda, mas acredito que num futuro, talvez em uns 10 anos, eu volte para o interior. Não para Itaperuna, mas para uma cidade menor. A vida de São Paulo é muito louca, é muito boa para ganhar dinheiro, mas acho que depois que eu já estiver estabelecido na minha vida, na minha empresa e tudo mais, eu tenha a intenção de ir para uma cidade próxima, como Campinas, Piracicaba, Sorocaba, algo do tipo. Ou, até mesmo, outra capital, mas esse é um planejamento de longo prazo, daqui 20 ou 30 anos.

WHIZ: Quando você se assumiu, muitas coisas mudaram na sua vida e no seu canal. O que você tem a dizer sobre?

KD: Quando eu me entendi como LGBT, minha vida virou de cabeça para baixo, principalmente porque minha vida é o meu trabalho, né. Um dos lados positivo, e também negativo, de trabalhar com a internet é que tudo que você faz é um trabalho. É muito bom porque você vive sua vida, você se diverte, e isso é seu ganha-pão. Mas, ao mesmo tempo, tem o lado ruim que, se você está triste, está para baixo, se tem problema no relacionamento, tudo isso é exposto e todo mundo interfere, dá opinião, e é bem complexo tentar lidar com esses comentários. Quando eu me assumi, foi bem complicado justamente por isso. As pessoas sempre apontavam e diziam o que eu era, ainda mais por eu ser bissexual e as pessoas me taxarem como gay. Eu, Klebio, estava querendo entender o que era também e, até hoje, recebo vários comentários bifóbicos. Mas, também foi bom pela parte de eu puder ajudar outras pessoas. Quando parei de falar de livros e comecei a falar de LGBT, um dos meus maiores intuitos era ajudar pessoas que passaram pelo o que eu passei. Quando comecei a me aceitar, o Youtube me ajudou muito. Os canais que existiam naquela época eram mais sérios e tinham um conteúdo mais teórico sobre LGBT e outras causas sociais. Não era isso que eu queria, não era o que o Klébio de 18 anos queria. Eu queria algo muito mais leve, muito mais na brincadeira, do cotidiano, mais lifestyle. Quando eu gravo vlogs com o meu namorado, com os meus gatos, mostro minha vida, é muito pensando no Klebio do interior. Naquela pessoa que não consegue se assumir por diversos motivos e mostrar para ela que existe esperança, que ela vai conseguir, que tem uma luz no fim do túnel.

WHIZ: Hoje em dia, seus vídeos são mais voltados para a temática LGBT+ e isso, muitas vezes, acaba o envolvendo em questões políticas e sociais. O que você aconselharia a seus seguidores se estivessem passando pelo mesmo?

KD: Acho um ponto que as pessoas sempre comentam é a questão de aceitação e sentir orgulho. Acho que quando você está se aceitando existe uma escadinha que precisa ser seguida. Primeiro, é você se aceitar. Entender quem você é, qual sua sexualidade, viver sua vida e encontrar uma caixinha para você. O que é diferente de tentar se adequar a uma caixinha. Como exemplo, a pessoa se acha gay ou lésbica, e tenta se encaixar nos estereótipos que as pessoas vão passando. Não é isso. A gente tem que viver, ser nós mesmos, e depois tentar encontrar uma caixinha perfeita, sempre respeitando quem você é. Se você tentar se encaixar, daqui um tempo irá enjoar, não vai aguentar. A caixinha é para ser confortável, não apertada. Sobre a família e amigos, se você sabe que são super preconceituosos, não fale. Comece a trabalhar, junte uma graninha extra, ache sua independência. Eu tive o privilégio de morar com os meus pais e eles me bancarem, mas cheguei até a guardar o dinheiro do lanche para poder sair de casa. Sei que não é fácil, mas faça um planejamento e coloque a mão na massa. Assim que todos souberem, passe a ter orgulho. Aprenda mais sobre a cultura LGBT e, com o passar do tempo, tenha orgulho de quem você é.

WHIZ: Se você pudesse voltar no tempo, mudaria alguma coisa na sua trajetória? Se sim, o quê?

KD: Costumo muito dizer que não mudaria meu passado. É aquela questão de linha do tempo, se a gente mudar uma virgulazinha que seja muda todo seu futuro. Eu sou bem feliz onde estou agora. Claro que poderia ter feito escolhas mais assertivas lá atrás, mas eu gosto de como as coisas estão caminhando, de quem o Klébio se tornou. Me tornei uma pessoa completamente diferente, muito mais cabeça. E por mais que eu seja super brincalhão e fique rebolando no Instagram (risos), sou muito profissional, gosto de ter minha empresa, crescer, evoluir, estudar. Sinto que estou no caminho certo. Mas, se tem uma coisa que eu mudaria na minha trajetória no Youtube, seria quando parei de falar de livros. Eu faria uma transição muito mais branda. Não estava feliz na época e mudei o conteúdo do canal do dia para a noite, perdi muita gente e muitos ficaram com raiva de mim. Com o conhecimento que tenho hoje, teria feito uns video aleatórios sobre séries, filmes, ao invés de ir do 0 à 80 de uma vez só.

WHIZ: Por fim, quais são seus planos para o seu futuro e o do canal?

KD: Agora na quarentena eu comecei a fazer vlogs diários. Além dos meus vídeos normais de empoderamento LGBT, de comédia e tudo mais, eu tenho feito muitos vlogs com a câmera na mão gravando o meu dia a dia. Como eu disse lá no começo, um dos meus focos é mostrar o meu dia a dia, meu cotidiano. Para, primeiro, as pessoas se sentirem próximas de mim, que somos amigos. E outra questão é para que as pessoas LGBTs que queiram trabalhar com o youtube possam ver como é essa vida. Comecei a gravar a minha vida porque sinto falta de pessoas LGBTs gravando seu dia a dia, até existem outros canais, mas com o meu estilo de vida, quase casando, com dois gatos, quero adotar um filho também, não vejo isso. Quero que as pessoas vejam isso e que possamos ser amigos. Para podermos falar sobre receitas, filmes, livro, tudo dá para falar. Outro planejamento é retomar os projetos que estão parados, como “Volta ao mundo com Klebinho”, onde fui para 11 países, queria fazer uma segunda ou terceira temporada, mas com a quarentena ficou impossível. Também queria voltar com o “Ninguém nasce desconstruído”, o meu “talk show” onde falamos sobre diversos assuntos.

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