Cultura, arte e isolamento em Berlim

Jovens adultos comentam como a pandemia afetou o cenário criativo da capital alemã e suas vidas pessoais

O isolamento social definitivamente causou um distanciamento do público com atividades e eventos ao redor do mundo. Espaços públicos, restaurantes, cafés, museus e feiras ainda continuam abertos, dependendo da época e de como a pandemia está sendo tratada em cada local. Já festivais, shows, exposições e eventos conjuntos não acontecem em Berlim desde o verão europeu de 2020.

A cidade alemã é considerada um dos pontos mais ativos culturalmente dentro da Europa. Repleta de jovens e criatividade, Berlim tem sempre algo acontecendo pelas ruas, parques e espaços públicos, mesmo que um evento não esteja de fato ocorrendo. Katharina Gold, 22, atendente em um hotel na cidade, conta que antes da situação, ela sempre teve a sensação de que não importa para onde você estava indo ou com quem você estava indo, desde que estivesse dentro de Berlim, você iria encontrar algo para fazer.

Estar em Berlim fora da pandemia era como estar em diversos lugares ao mesmo tempo, fazendo várias coisas com pessoas do mundo inteiro. Agora, com a terceira onda da doença na Europa, tudo que não é essencial está fechado. “No começo, eu não me importei, porque eu gosto sim de estar sozinha, mas neste momento é mais frustrante, porque eu sou forçada a estar comigo mesma e não tenho mais a opção de sair com meus amigos em nossos dias livres”, diz Katharina, que também concorda com a perspectiva de que o lazer e a vida social, mesmo não considerados essenciais, apresentam um impacto muito grande na vida do jovem adulto.

Büșra Gümüş, 20, estudante de pedagogia em Berlim, compartilha como o isolamento social não apenas afetou seu lazer, mas também sua saúde mental. Antes da pandemia, ela costumava frequentar os chamados “Poetry Slams”, evento onde pessoas recitam poemas ou leem suas obras e depois são julgados pela plateia ou por jurados. “Esses eventos eram lugares seguros para mim, eram como um lembrete que eu pertencia a uma sociedade”. A quarentena não só afasta as pessoas de eventos e lazer, mas também da sensação de pertencimento a algo maior. “Para mim tudo é sobre o senso de união, em especial fisicamente, você se torna muito mais consciente do poder que tem com essas outras pessoas”, complementa Büșra.

A cultura e a arte tem como papel na sociedade vulnerabilizar situações. Para muitos, participar de atividades que envolvam um grupo de pessoas era importante para se manterem saudáveis mentalmente. Mesmo sem tantos dias livres, Katharina Gold sempre levou seus passeios ao parque e suas idas à cafés e restaurantes como uma forma de self care (cuidado pessoal). Ela podia estar sozinha ou com amigos, mas o fato de poder interagir com o espaço público e fazer passeios pela cidade livremente a deixavam menos ansiosa depois de uma rotina cansativa.

A atendente comenta sobre seu restaurante favorito, um espaço vietnamita vegano chamado 1990. Ela fala como se sentia confortável e bem-vinda no lugar. Ir comer no restaurante era uma de suas atividades favoritas antes da pandemia. Assim como ir a parques e participar de eventos aleatórios artísticos que ocorriam ao decorrer do ano.

Atualmente, Berlim não abre nenhum departamento de lazer para o público por motivos de segurança, mas a arte e a cultura continuam fazendo parte do dia a dia dos jovens que estão conectados virtualmente com a cidade. Büșra acredita no fato de Berlim ainda estar funcionando normalmente em quesitos artísticos: “É arriscado achar que a arte só é encontrada em lugares físicos, porque se não, arte digitalizada não seria arte, então eu prefiro não pensar deste jeito. Berlim como cidade não tem problema algum em expressar arte de outras formas, como por meio das redes sociais”.

Katharina enxerga Berlim de maneira diferente. Ela compara o cenário pandêmico atual com o inverno europeu na capital alemã: “Berlim é a cidade mais melancólica para se estar durante o inverno. O que segura essa realidade são as pessoas e as coisas que você pode fazer, e isso não está acontecendo. A pandemia adicionou uma nova camada de apatia, como se ainda fosse inverno”. Os momentos com os amigos e com a cultura em espaços físicos são poucos, mas ela tenta encontrar o calor de antigamente nas chances que tem de sair com os amigos e lembrar de como a cidade costumava ser.

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