
Holofote destrutível
O potencial de humanização de grandes nomes da indústria musical através de obras cinematográficas
A produção de documentários sobre a carreira de artistas musicais tornou-se uma etapa recorrente em suas jornadas artísticas. Os olhares do público se voltam inteiramente as suas vulnerabilidades e às consequências da superexposição constante feita pela mídia. Além disso, os longas-metragens desenvolvem um novo aspecto das faces estampadas nos holofotes ao redor do mundo, de individualidades cativantes.
Do sucesso mundial à queda organizada, o documentário “Framing Britney Spears”, lançado no início de fevereiro, acompanha a ascensão da cantora e sua luta por liberdade. Mesmo após duas décadas, o filme revisita a crueldade assistida da cobertura midiática. A história contada por Samantha Stark sensibilizou uma nova geração por meio da construção de uma narrativa audiovisual fascinante.
“O cinema documental possui um poder de revelação e se faz ainda mais necessário, pois apesar de toda exposição e conteúdo produzido nas redes sociais, estes não têm exatamente a narrativa. É algo muito disperso e fragmentado”, diz o jornalista Matheus Mans Dametto e acrescenta como as redes sociais manifestam apenas a ponta do iceberg de uma realidade que passa por filtros. “O documentário, por meio da visão do realizador, um bom roteiro, edição e entrevistas acaba indo além disso, para a melhor compreensão do público”, afirma.
É possível analisar de maneira semelhante o documentário “The World’s a Little Blurry”. Billie Eilish, de apenas 19 anos, conquistou o topo das paradas e uma legião de fãs, tornando-se uma das maiores artistas dos últimos dois anos. Foram retratados no longa-metragem sua ascensão frenética, o processo de criação de seu álbum de estreia “When We All Fall Asleep, Where Do We Go?”, além de gravações de arquivos pessoais da família.

Matheus comenta sobre a capacidade da linguagem cinematográfica interpretar os sentimentos do artista e a maneira como afeta diretamente a reação do público, sem necessariamente afirmar algo. O documentário da Billie se transforma em um exemplo nítido, no qual o cineasta R.J. Cutler trabalha de forma surpreendente com as cores em diferentes momentos do filme, na intenção de escavar as intimidades, sentimentos e emoções da artista.
As grandes plataformas de streaming têm explorado frequentemente produções biográficas de artistas. A Netflix, por exemplo, se destacou com o lançamento de diversos documentários no último ano, como da Ariana Grande, Shawn Mendes e outros. Porém, nem todos são considerados bons filmes, que saem da bolha e acessam novos públicos, pois se tratam de produções voltadas inteiramente aos fãs, sem nenhum propósito maior. O filme “Miss Americana”, da cantora Taylor Swift, vai muito além da música e dos bastidores. Segundo Matheus, o documentário acompanha muito mais seu lado politizado, suas transformações, gerenciamento da carreira e se destaca entre produções sem personalidade.
Outro meio que explora de forma híbrida o cinema e a música, é o álbum visual. Assim como um videoclipe, ele promove o disco musical, e como um filme, é contemplado como uma obra cinematográfica. Trata-se de uma visão ampla da produção musical, uma vez que promove a criação do artista sobre a imagem de um disco. Francisco Marcondes, compositor e produtor musical, diz que o que um álbum visual traz para a música é a palpabilidade. “É algo que não fica apenas na sua imaginação, e com certeza agrega ao som”, completa.
O cantor, compositor e rapper brasileiro, Baco Exu do Blues, venceu o grande prêmio da categoria de Entretenimento para Música com o clipe de “Bluesman”, do festival de Cannes, em 2019. Além de mobilizar e dar visibilidade às produções nacionais, especialmente do rap, o cantor se tornou um exemplo da atmosfera única que complementa a narrativa sonora dos álbuns visuais. Francisco conta que o álbum visual pode se tornar uma tendência a quem enxerga a música como algo que transcende os meios, porém apenas para artistas consolidados no mercado, visto que demanda um grande orçamento.

Eu AMEI essa matéria! Adoro esses documentários dos artistas, são bem importantes pra gente ver um lado mais pessoal e humano deles.
A matéria ficou ótima! Eu adoro esse clipe do Baco e amo o jeito que ele trouxe para o cenário do rap diversos artistas nordestinos. Antes de Sulicídio, eu não conhecia e não procurava sobre. Enfim, ele arrasa!