#Iluminarte – Amor que une a dor ao estrelato

Essa é uma história contada pela quarta vez. Mas o que a faz ser diferente agora? “A Star is Born” foi um sucesso de bilheteria e isso é um fato. Indicado em várias premiações, incluindo o Oscar, o Golden Globe e BAFTA, o longa ainda vai ganhar um encore nos cinemas americanos com mais 13 minutos de duração nos próximos meses. Com um roteiro moderno para a nova geração apaixonada por música e cinema, o filme trata sobre a ruína do cantor Jackson Maine (Bradley Cooper) e sua relação com o álcool e com a cantora em ascensão Ally (Lady Gaga), que busca uma oportunidade para realizar seu sonho de ser uma estrela da música. O amor e o vício são ligados pela voz e juntos combinam um final emocionante e inesperado… ou esperado até demais.

A essência de cada adaptação é o tempo em que foi feito. A cada ano que passa, o mundo muda, junto com o pensamento e visão das pessoas. Atualmente, vivemos em uma sociedade de superficialidade, onde tudo e todos são transformados em produtos, onde poucos demonstram a sua verdadeira essência. Realidade mostrada durante o filme.

Em seus primeiros minutos de filme, escutamos uma das músicas de Jackson Maine, talvez uma das mais importantes para entender seu personagem. Com um shot e alguns comprimidos, o cantor entra no palco e, sem sabermos no momento, conta como é e como será a sua história durante o decorrer do filme.

Demonstrando todo o seu talento com a guitarra e a potência de sua voz, a música “Black Eyes” é um desabafo sobre sua solidão e seu vício, o qual atrai olhares de reprovação e acaba o isolando. Isso piora após o artista ser deixado de lado com a chegada de uma nova estrela, mesmo sempre  estando com os olhos abertos para esses acontecimentos. Alguns versos evidenciam ainda mais a história do astro.

Imagem retirada do filme A Star Is Born

O primeiro verso (“Black eyes open wide”) já demonstra uma visão sobre algo sombrio, fúnebre. Seguindo um pouco a música, Maine diz estar sozinho durante sua caminhada, indicando como será sua trajetória ao longo do filme: uma jornada em que o protagonista perde algumas pessoas ao seu redor e se sente sozinho. Logo após, ele fica repetindo a frase “by the wayside”, em que revela o fato de ele estar caminhando pelo esquecimento, como uma estrela que se apaga enquanto assistimos o nascimento de outra.

Depois do show, o cantor entra em seu carro e parece estar sem um destino certo, apenas procurando algum lugar para buscar um refúgio após um show. E nesse caminho aparece uma cena que te conta de maneira implícita o final do filme. 

Imagem retirada do filme A Star Is Born

Em paralelo a esse acontecimento, Ally sai de seu trabalho como garçonete para se apresentar, coincidentemente, no mesmo local que Jackson vai para se divertir. Enquanto a garçonete está retirando o lixo da cozinha para assim sair rumo ao seu real prazer que é a música, notamos um jogo de luz e sombra, em que Ally sai da escuridão. No momento que ela pisa na luz, o personagem começa a cantar e o título do filme se apresenta na tela.

A partir do momento que as estrelas se encontram, as cenas do filme passam a ter tons de vermelho, algo que nas produções audiovisuais indica, muitas vezes, a morte e o amor. Com isso, o filme começa a nos mostrar ainda mais o caminho que vai seguir a partir dessa relação.

Desde o início, vemos o problema de Jackson com alcoolismo e o filme evidencia o problema do cantor em cenas como esta, na qual o astro está em frente a diversas bebidas.  Mostra-se que ele está em meio a essa situação, sendo ele minoria e sem forças para superar o vício.

Após se encantar com a paixão da voz da cantora. ambos permitem-se a serem vulneráveis por alguns minutos para que o outro o veja de verdade, fugindo da superficialidade da sociedade e principalmente da indústria artística. A paixão dos dois os conectam em uma mesma sintonia, onde começam a trilhar juntos seus caminhos, em uma canção em que Ally apresenta no estacionamento de uma farmácia (Shallow), vemos uma mudança no filme, até mesmo nas cores.

“Me diga uma coisa, garota
Você está feliz neste mundo moderno?
Ou você precisa de mais?
Existe algo mais que você está procurando?“

“Me diga uma coisa, garoto
Você não está cansado de tentar preencher esse vazio?
Ou você precisa de mais?
Não é difícil manter toda essa energia?”

Tons de azul tomam conta da tela. Luz no topo, como se fosse a saída para quem não consegue mais tocar ao chão.

Durante o filme, Ally ganha espaço nos holofotes. Então, ela começa a cantar com seu companheiro em seus shows, ganhando fãs e chamando atenção de empresários, que logo depois fecham um contrato com a artista. E esse é o começo da transformação da jovem cantora.

Jackson, que sempre viu a verdade da indústria artística, começa a ser excluído, enquanto Ally está em ascensão. Mas a indústria artística não é perfeita, ela tem um padrão. Ela quer algo para vender e dessa vez seu produto se torna Ally, que também se rende ao sucesso. Jackson percebe e se frustra por não poder ajudar sua amada,  além de nem conseguir se ajudar. Alguns hábitos são difíceis de superar.

“Talvez seja hora de deixar os velhos hábitos morrerem
É preciso muito para mudar um homem
Caramba, é preciso muito para tentar
Talvez seja hora de deixar os velhos hábitos morrerem”

Jackson nunca se deixou vender. Ele sabia a verdade sobre a indústria e sobre todos que a acompanhavam, porém, o que importava era a sua verdade. O filme fala sobre a verdade nua e crua dessa indústria, mas também sobre se expressar e sobre a paixão de dois indivíduos, que compartilham sonhos e entram na mesma sintonia.

Já no final do filme, vemos Ally cantando “Always Remember Us This Way”, uma música que ela escreveu pensando no Jackson presente nela, como se ele já fizesse parte dela. Porém, indo mais fundo na interpretação do filme, nota-se que a música é para ela mesma, para ela não deixar a antiga Ally, que cantava por paixão, morrer para a indústria musical. Isso fica evidente no momento em que ela canta olhando para si.

Ao chegar no encerramento do filme, a estrela, o agora já apagado Jackson Maine, tira o seu carro (vermelho) da garagem, pega um cinto guardado no porta-malas e comete suicídio, enquanto sua esposa, Ally, está em turnê.

No momento em que a estrela que vimos nascer está cantando “Shallow”, música emblemática para o casal, ainda sem saber do acontecimento, todas as luzes do show se tornam vermelhas, fazendo alusão à morte de uma estrela, enquanto a outra nasce, quando Ally volta a ser a que Jackson conheceu no início do filme. 

Mostrando uma trajetória conturbada, tanto na vida pessoal quanto no caminho para o sucesso, a artista aprende a lidar com o estrelato, mesmo após quase se entregar para o que o mercado fonográfico deseja. Ela relembra suas origens no final do filme ao resgatar a essência do que aprendeu com o amor compartilhado com seu marido e presentea os ouvintes com o encerramento puro e cru da balada “I’ll Never Love Again”.

Imagem retirada do filme A Star is Born.

Por Flávio Henrique, Giovanna Cortez e Pedro Rocha.