Movimento anti-envelhecimento no Brasil

População idosa sofre estigmas na sociedade

Na vida, um ser humano nasce, cresce e envelhece. Se você ainda é jovem, um dia sentirá as mudanças do tempo e chegará na faixa dos 60 anos. Tramita na Comissão de Defesa dos Direitos da Pessoa Idosa (CIDOSO), o Projeto de Lei 5383/19 que altera de 60 para 65 anos a idade em que um cidadão pode ser considerado idoso, de acordo com dados divulgados em 2020 pela Agência Câmara de Notícias.

Entre os problemas que a COVID-19 pôde trazer consigo ou reforçar está a Velhofobia, a Gerontofobia e o Ageísmo. Talvez, seja o caso de você já ter ouvido falar destes termos ou que seja a sua primeira vez tomando conhecimento deles. A Velhofobia, a Gerontofobia e o Ageísmo possuem ideias relacionadas ao medo patológico, aversão e pavor em envelhecer, o que torna, assim, a parcela idosa alvo de discriminação etária e preconceito.

Eilane Souza, bacharela em Gerontologia pela Universidade Federal de São Carlos e dona do perfil “Velhices Minhas” no Instagram, conta os motivos que podem estar relacionados ao fato de existir esse preconceito contra a população idosa. “Se pudesse dar uma resposta objetiva, ela seria: O preconceito com a fase do envelhecer se dá, principalmente, devido à falta de educação em Gerontologia nas escolas, ineficácia na implementação e fiscalização de programas e políticas públicas voltadas ao envelhecimento, o que tem como consequência o movimento anti-aging“.

Segundo dados divulgados em 2019 pela UOL, a expectativa para o número de idosos no Brasil, até 2031, é de 43 milhões. Em 2019, o país somava 29 milhões de pessoas a partir dos 60 anos. Nesta parcela, os que estão aposentados já deram a sua contribuição no passado para seu país, e hoje desfrutam do que recebem do governo.

O fato de não trabalharem mais acaba colaborando para uma visão negativa da população e contribui para que essas pessoas se tornem “invisíveis” na vida em sociedade. “Nós, jovens, quando não damos espaço para aprender e entender o que é ser idoso, aquela imagem do senhorzinho de cabelos brancos e bengala persiste em caracterizar uma pessoa com 60 anos de idade ou mais. Assim muitos subestimam, infantilizam e fragilizam a pessoa idosa”, relata Leticia Olaia, recém-formada no curso de Gerontologia pela Universidade Federal de São Carlos e dona do perfil “Geronto Conecta” no Instagram. Já Eilane expõe: “Nós, enquanto sociedade, enxergamos o velho como alguém frágil, inútil e teimoso… Os piores adjetivos são destinados à pessoa idosa, já reparou? Vem o substantivo ‘velho’ no começo da frase, como se ‘velho’ fosse um termo inadequado e completamente ruim”. A profissional da Gerontologia complementa que o termo é empregado por muitos quando querem enfatizar algo negativo, seguido de outros como: “safado”, “preguiçoso”, “teimoso”, não se dá o respeito”, “não tem idade pra isso” e “só atrapalha”.

Os idosos e a questão do envelhecimento são tratados de maneiras diferentes em cada país. Indagada sobre se no Brasil a velhofobia é mais acentuada que em outras nações, Olaia opina: “Algo que podemos associar é que países mais desenvolvidos, como os da Europa, tiveram uma preparação de anos para lidarem com o envelhecimento populacional”. E Souza aponta: “Se compararmos o envelhecimento no Brasil com o Japão, por exemplo, percebemos que a cultura tem grande impacto no que tange a valorização das pessoas mais velhas. Somos ensinados desde pequenos que quando envelhecermos teremos problemas apenas por sermos velhos. Enquanto em outros países, significa sabedoria”.

Tudo caminhava bem, até que em março de 2020 o mundo é assolado por uma pandemia. A população idosa, que seguia sua rotina normalmente, mais tarde viu sua vida mudar drasticamente em tão pouco tempo. Ela era, agora, considerada grupo de risco para a doença. A partir deste momento, passou a ser isolada do convívio com a comunidade.

Questionada se esse isolamento já não estava acontecendo, a universitária afirma: “Sempre esteve, com a pandemia só entrou mais ainda em evidência, sendo os idosos o principal grupo de risco”. Eilane postula que, o isolamento social da pessoa idosa, a aversão e o medo ao processo de envelhecimento humano sempre existiram. E acrescenta: “É preciso alertar que o Facebook, atualmente, é uma das redes sociais mais utilizadas por idosos, memes e piadas de tom preconceituoso podem afastar o único meio de socialização deles, algo que mais precisam, devido às consequências adversas de tal isolamento”.

Falta de memória e sono e dor nas costas podem, ou não, ser sintomas decorrentes do processo de senilidade. Ela acontece quando o funcionamento de sistemas do corpo, como cardiovascular, respiratório, urinário e imunológico, sofre uma queda gradual em virtude do envelhecimento. Assim como tudo o que faz parte do universo dos idosos, a senilidade deve ser objeto de sensibilidade. A profissional formada explica que precisamos ser realistas: “O envelhecimento senil existe, basta falarmos sobre ele de fato como ocorre. O que não podemos é infantilizar a pessoa idosa devido a sua condição senil, de modo a desvalorizar toda a sua história de vida”. E mostra um exemplo claro desse período: “Idosos em processo demencial são infantilizados a todo instante. A infantilização é muito prejudicial, com impactos negativos na autonomia e consequentemente na independência da pessoa idosa, sem contar que gera uma maior deturpação do que é envelhecer”, replica. Olaia afirma que pela senilidade ser um processo natural do envelhecimento do homem, ela não deve soar ofensiva e desrespeitosa. E ainda aponta que o fato das pessoas serem desrespeitosas e preconceituosas, é devido ao motivo de elas não enxergarem a senilidade como algo que todos nós vamos passar enquanto seres humanos.

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