O esporte e o protesto andam de mãos dadas

Foto: Reprodução/Twitter/BleacherReport)

Em 2020, o esporte continua sendo uma importante forma para atletas se manifestarem sobre importantes assuntos

Em 25 de maio de 2020, o norte-americano George Floyd foi assassinado nos Estados Unidos após ser estrangulado por um policial branco, que se ajoelhou em seu pescoço durante uma abordagem. Sua morte gerou uma série de protestos em todo o mundo e levantou questões importantes sobre o racismo na sociedade. No mundo do esporte, inúmeros atletas e equipes profissionais se manifestaram sobre o assunto e astros da NBA, a mais importante liga de basquete do planeta, foram às ruas para protestar contra a violência policial. Em poucas semanas, o ato de se ajoelhar durante o hino nacional antes das partidas tornou-se recorrente em vários eventos esportivos do mundo.

Apesar de parecer um fenômeno atual, impulsionado pelas mídias sociais, os esportes sempre foram uma ferramenta para manifestações dos mais diversos tipos. Em 1968, nas Olimpíadas no México, os velocistas Tommie Smith e John Carlos protagonizaram um dos momentos mais emblemáticos das competições esportivas no século XX. No pódio e com luvas pretas, os esportistas ergueram o punho, uma forma de protesto e reverência ao movimento dos Panteras Negras. Após essa manifestação, Tommie e John foram expulsos dos Jogos, já que a Olímpiadas proíbe manifestações e protestos em suas disputas. No Brasil, a Democracia Corinthiana, movimento liderado por jogadores como Sócrates, Wladimir, Casagrande e Zenon na década de 1980, também é um exemplo da junção entre o esporte e política.

Para José Carlos Marques, professor de jornalismo na UNESP (Universidade Estadual de São Paulo) e coordenador do GECEF (Grupo de Estudos em Comunicação Esportiva e Futebol), é extremamente relevante atletas se posicionarem: “É importante porque eles têm muita visibilidade, são formadores de opinião, possuem grupos de fãs, costumam gerar empatia e coisas do tipo. Suas opiniões têm o poder de movimentar o debate público”. Entretanto, segundo o jornalista, impactos negativos como a fuga de patrocínios, a sanção de entidades esportivas e a antipatia de grupos que não concordam com aquele posicionamento, podem acontecer com esses esportistas mais engajados.

Recentemente, a voleibolista Carol Solberg foi advertida pelo STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva) por gritar “Fora, Bolsonaro” durante transmissão ao vivo na primeira etapa do Circuito Brasileiro de vôlei de praia. O episódio desencadeou uma série de críticas ao Superior Tribunal, que passavam por alegações de censura e machismo. Segundo o jornalista, que considera a punição infeliz e inadequada, a postura de determinadas organizações esportivas não condizem com as suas trajetória no esporte. “Mais uma vez, as entidades esportivas querem apagar a sua própria natureza, que é a de fazer política desde que foram criadas. Essas proibições quase sempre partem de imposições dos patrocinadores e das marcas envolvidas na organização dos grandes eventos”, afirma José.

Ainda sim, figuras influentes como a futebolista Megan Rapinoe e o automobilista Lewis Hamilton, se engajam em assuntos de importância social, política e defendem abertamente bandeiras no meio do esporte. Contudo, ainda são poucos os esportistas brasileiros que usam o desporto como forma de manifestar desejos de mudanças na sociedade. “Não são apenas os atletas brasileiros que são pouco engajados. Atualmente, diversas outras categorias profissionais podem receber o mesmo rótulo, especialmente em alguns setores das artes e espetáculos. No caso do esporte, infelizmente há muito pouca consciência política e quase nenhuma liderança, o que é um bom espelho de nossa sociedade atual”, lamenta José Carlos Marques.

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