O que é achado não é roubado, será?

Os maiores saques arqueológicos são, hoje, expostos em diversos museus ao redor do mundo, pertencentes aos ladrões. Pagamos para apreciar diversas obras e artefatos que são fruto de, muitas vezes, roubos descarados ao longo dos anos. Para entendermos melhor, temos que fazer uma breve viagem ao passado.

O colonialismo foi o método de dominação utilizado por diversos países contra outras nações. Ele pode ser caracterizado pelo domínio territorial, cultural ou econômico. Muitas vezes, se mostrou de forma violenta, se utilizando de falsos benefícios para conquistar e explorar outras culturas. Esse colonialismo deu origem a uma espécie de “saque arqueológico”, onde países como Inglaterra, França, Alemanha, Espanha, Portugal e muitos outros negociavam de forma ilegal ou realizavam saques de objetos pertencentes à cultura dos colonizados. Alguns exemplos que podemos citar são a “Hoa Hakamanai’a”, um dos monumentos mais importantes da Ilha de Páscoa, a “Pedra de Roseta”, que foi uma peça-chave para decifrar os sistemas de escritas do antigo Egito, e os “Bronzes de Benin”, de origem nigeriana e tirado à força por tropas britânicas em 1897 durante uma invasão ao país, onde mais de 200 esculturas foram roubadas e estão expostas até hoje no Museu Britânico, em Londres.

Depois de diversos esforços da Comissão Nacional de Museus e Monumentos da Nigéria, a Alemanha devolve 20 peças de bronze, mas um decreto do presidente Mihammandu Buhari em março do ano passado (2023), referente aos locais de destino das peças dentro do país, ocasionou o adiamento de cerca de 116 peças pelo museu da Universidade de Cambridge.

Outro caso que gerou comoção da população é referente às esculturas do Partenon, cujo governo britânico se recusa a devolver à Grécia. Alegando que um homem conhecido como Lorde Elgin adquiriu as peças de maneira legítima dos otomanos, o governo e o Museu Britânico continuam defendendo que a instituição é a proprietária legítima dessas obras. Com a desculpa de que seriam apreciadas por todo o globo, Elgin removeu as obras de seu local de origem, porém a primeira coisa que fez foi levar as obras para casa. Após alguns anos, se viu obrigado pela falta de dinheiro para vender os mármores ao Museu Britânico.

“Os mármores do Partenon são nosso orgulho. São nossa identidade. São o vínculo atual com a excelência grega. São nossa herança cultural. Nossa alma.” – Melina Mercuri, primeira ministra mulher da Cultura da Grécia.

Em 2022, cidadãos egípcios organizaram a campanha “Repair Rashid”, uma petição para reivindicar 17 artefatos nacionais mantidos no Museu Britânico, incluindo a “Pedra de Roseta”. O museu inglês, ao alegar que um emissário egípcio havia assinado um acordo de concessão dos objetos, foi rebatido pelo arqueólogo e egiptólogo egípcio Zahi Hawass, também ex-ministro das Antiguidades do Egito, que ressaltou o fato de que, após a derrota militar para a França, não havia outra saída além das concessões dos artefatos em 1801. Hawass também defende a devolução do “Busto de Nefertiti” e do “Zodíaco de Dendera”, pelos museus de Berlim e do Louvre, respectivamente.

“A posse da Pedra de Roseta pelo Museu Britânico é um símbolo da violência cultural do Ocidente contra o Egito.” – Monica Hanna, reitora da Academia Árabe de Ciência, Tecnologia e Transporte Marítimo.

No Brasil, o governo conseguiu a repatriação de alguns artefatos, como um dos mantos dos tupinambás, retirados do território nacional após as invasões holandesas no nordeste no século XVII. Em 2023, a Dinamarca devolveu um exemplar, enquanto os outros continuam no continente europeu. Após 10 anos de tentativas, também em 2023, a a França realizou a devolução de quase mil fósseis traficados, contendo registros de diversos animais e plantas.

“A presença de remanescentes humanos em museus evidencia como nossos povos foram desumanizados e vistos apenas como objeto de estudo.” – Susilene Elias de Melo, líder Kaingang e assistente do pajé na Terra Indígena de Vanuíre, São Paulo.

O repatriamento de obras roubadas de maneira injusta ou adquiridas de forma ilegal é muito importante para a identidade e cultura dos países que sofreram das violências coloniais. Não é justo que um país não possua o direito de manter em seu território artefatos importantes que contribuíram e caracterizaram seu povo, que ainda os fazem até hoje. Esforços internacionais são mais do que necessários para que, com acordos e compreensão mútua, artefatos voltem aos respectivos países, à sua cultura e ao seu povo.

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