Pequenas Coisas

Nós só damos valor nas pequenas coisas quando as perdemos. Um abraço, um sorriso, um cumprimento, tudo tem seu prazo de validade. Quando entramos na rotina do dia a dia, é difícil reconhecer os fins. Os começos em sua maioria são lembrados, seja pela ansiedade pelo que antecede o novo, ou pelo fato de palavra “recomeçar” ser tão forte. Mas os fins… os fins são ignorados por, muitas vezes, carregarem dor, tristeza e solidão.

Quando foi a última vez que você abraçou seu melhor amigo? Quando foi a última vez que você sentou para tomar um cafezinho? E a última vez que você pegou o transporte público para ir para casa? São essas, e dezenas de outras pequenas coisas, que não nos foi possível reconhecer como despedidas.

Pedro estava tão acostumado com o truco de sexta à noite que nunca havia pensado que aquele momento podia chegar ao fim. Pedro não percebeu que aquela fatídica sexta à noite em que anunciaram o adiamento das aulas era a última em que veria Amanda. Pedro achava que era só um viruzinho e já já iria embora.

Já já iria embora… sim, iria embora, e levaria uma das pessoas mais importantes para ele junto. No começo, todos levaram a sério o decreto de isolamento. Ficaram em casa e faziam videochamada sempre que tinham um tempinho livre. Mas, com o passar das semanas, ligar já não estava bastando. Foi aí que descobriram o truco online e decidiram manter a tradição e jogar à distância mesmo. Pelo menos era o que achavam.

Pedro, Amanda, Ana e Maria. O quarteto que participava de todas as competições de cartas e estavam sempre no mesmo cantinho do bar, com um litrão e um baralho. Agora, são Pedro, Ana e Maria. Não existe mais duplas no truco. Uma cadeira ficará para sempre vazia. Pedro não quebrou a quarentena, ficou em casa. E, mesmo assim, viu quem amava ir embora. Pedro é todos nós. E nós, somos Pedro.

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