Por que ‘Com amor, Simon’ é um filme necessário?

Foto: Copyright 2018 Twentieth Century Fox

Com protagonistas jovens, a representatividade do filme é destaque e se faz de grande importância na atualidade

“Que horror… desnecessário. Olha isso, eles incentivam”. Assim, assustada, terminou de assistir ao filme aquela senhorinha sentada do meu lado, cheia de jóias, típica moradora do bairro Higienópolis. Perfeitamente normal, como todos os outros filmes, era também como se descrevia o personagem principal, Simon Spier. Em mais uma superprodução dos estúdios 20th Fox, Com Amor, Simon, se apresenta com um quê hollywoodiano e aquela linearidade de filme sessão da tarde, que nos faz fixar os olhos na tela, atentos para o desfecho.

Quando LGBTs começaram a ser representados no cinema e na televisão, em sua maioria, surgiam estereótipos e personagens escrachados, como o Patrick, de Zorra Total (TV Globo) e seu bordão “Olha a faca”. Os meios de comunicação que deveriam servir de espelho social, e de representação das classes, terminavam por lutar pela invisibilidade dessa comunidade. Recentemente, com o aumento das discussões acerca desse tema, mais filmes LGBT têm sido produzidos, mas acabavam tendendo para o lado cult, como Moonlight, ou para finais trágicos, com mortes, doenças ou tristezas, como Me Chame pelo seu Nome.

‘Com amor, Simon’ é só mais uma história de um adolescente no Ensino Médio. Mas dentre todas as outras, a mais necessária. Enquanto leva sua vida de colegial americano, Simon esconde o seu grande segredo: ele é gay. Por não entender a necessidade de precisar assumir a sua sexualidade, deixa esse segredo no armário, longe da sua família, que é liberal, e de seus amigos que lhe acompanham durante toda a trama; até o dia em que Simon começa a se corresponder, anonimamente, com outro menino de sua escola e se apaixona.

Para manter esse segredo, ele trai seus amigos e o filme acontece, abordando diversas temáticas, extremamente importantes, como o ato de se assumir, as batalhas diárias e pessoais dos LGBTs, o bullying, o preconceito, a adolescência em geral etc. Baseado no livro “Simon vs. a agenda Homo Sapiens”, de Becky Albertalli, ‘Com amor, Simon’ não é um filme gay. É um romance, um drama adolescente, uma comédia. Nada além. Pelo brilhantismo com que se dá o tom do filme, o crédito vai ao diretor Greg Berlanti, pela leveza conduzida nas telonas.

O elenco apresenta atores já bem conhecidos nesse cenário infanto-juvenil, como Katherine Langford e Miles Heizer, que interpretaram Hannah Baker e Alex Standall em ’13 reasons why’. Também Jennifer Garner, imortalizada por seu papel em ‘De repente 30’, que no filme em questão faz a mãe de Simon. Já a Nick Robinson, fica a responsabilidade de interpretar Simon. 

Como todo final de drama adolescente, tem a cena do beijo. Ela que assustou a senhorinha do começo desse texto. Ao mesmo tempo, então, em que ela se lamentava, as adolescentes no cinema gritavam de euforia. Esse choque de culturas talvez seja um sinal de para onde estamos indo. O grande diferencial do caráter comercial do filme foi justamente atingir a maior quantidade de gente possível, levando esses temas à grande bilheteria. Por fim, meu recado para senhorinha ao meu lado é que em nenhum momento ser gay foi incentivado no filme. O grande incentivo foi simplesmente: seja você.

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