Por trás das máscaras sociais

Um dos relatórios de personalidade mais famosos do mundo, o MBTI, revela o caráter controverso na identificação de tipos psicológicos

Identidade e pertencimento são conceitos fundamentais para a compreensão do mundo contemporâneo. A notável popularização dos testes de personalidade entre o público jovem, retoma uma reflexão sobre os processos culturais da modernidade. O MBTI ou Tipologia de Myers-Briggs, é um instrumento muito utilizado para identificar tipos psicológicos, através de um processo sistemático que obtém amostras de comportamento dos indivíduos.

Igualmente a outros testes de personalidade, o sistema criado por Katharine Cook Briggs e sua filha Isabel Briggs Myers foi baseado nas teorias sobre Tipos Psicológicos de Carl Jung, psiquiatra e psicoterapeuta suíço fundador da psicologia analítica. Consiste em quatro aspectos que são avaliados, entre introversão ou extroversão; sensorial ou intuitivo; racionalista ou sentimental e julgadores ou perceptivos. Resultando, assim, em 16 personalidades.

Apesar do indicador estar entre os relatórios de personalidade mais famosos de todo mundo, uma série de críticas são levantadas não somente em relação às falhas do instrumento, como também à maneira em que ele é normalmente pontuado e interpretado. O psicólogo Gabryel Cordeiro acredita que nenhum inventário de personalidade é confiável o suficiente para classificar as pessoas em 16 categorias de tipos, razão pela qual podemos obter diferentes perfis de acordo com o tempo e o espaço. “O senso de liberdade não existe. Somos controlados pelo ambiente que nos estimula”, completa.

“Enquanto eu estava respondendo o teste, sentia que as respostas seriam diferentes em outro contexto”, conta o estudante de comunicação Ilo Domingues. Ao realizá-lo pela segunda vez em meio a pandemia de Covid-19 e a crise política e econômica do país, o estudante afirma que suas percepções sobre o mundo frente a constante instabilidade, tornaram-se mutáveis. Gabryel acrescenta que a teoria de tipos e a própria individualidade do ser são complexos e não se resumem às pontuações distribuídas em categorias discretas.

Considerar esses códigos de tipo como retratos estáveis de personalidade reafirma a necessidade do reforçamento de um comportamento. Especialmente no mundo globalizado em que deixamos constantemente de pertencer, a possibilidade de se estar em vários lugares e não pertencer a nenhum explica a singularidade e simultaneamente, a pluralidade das relações humanas. Ilo acredita que o mecanismo se utiliza da tentativa de encontrar respostas e uma falsa sensação de identidade nas pessoas.

O SATEPSI, desenvolvido pelo Conselho Federal de Psicologia (CFP) com o objetivo de avaliar a qualidade técnico-científica de instrumentos psicológicos para uso profissional, reconhece o MBTI como um teste desfavorável em sua lista. Apesar de sua popularidade, não se encaixa no conjunto de requisitos técnicos para divulgação de informações sobre o teste psicológico à comunidade e aos psicólogos.

4 thoughts on “Por trás das máscaras sociais

  1. Muito bom e importante! Já fiz esse teste em vários momentos da minha vida e realmente nossas respostas mudam diante de um diferente contexto ou de nossa evolução na percepção do mundo.

  2. Fiz o teste algumas vezes e quando era mais nova possuia uma personalidade que hoje em dia já não condiz com o que eu penso. Incrível ver como vivemos em um estado de constante mudança!

  3. Já fiz o teste algumas vezes em diferentes contextos de vida e os resultados foram diferentes. Realmente é um resultado que depende da realidade situacional que estamos inseridos. Excelente texto!

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