A Volta dos Campeonatos
O fantástico meio do futebol abriu novamente as suas portas para o mundo, e isso pode trazer consequências.
Aos poucos, tudo vai voltando ao normal… ou seria ao “novo normal”? Fica o questionamento. Independente de qual seja a situação, com a maior parte dos estabelecimentos e comércios com permissão para reabrirem, chegou a vez do futebol ter o seu retorno decretado.
Em julho, o governador do Estado de São Paulo, João Doria, anunciou a volta do esporte para o dia 22 do mesmo mês, nos estados que estiverem na faixa amarela do Plano São Paulo. A autorização foi aprovada pelo Centro de Contingência para o Coronavírus, em conjunto com a Federação Paulista de Futebol (FPF).
No mundo, o primeiro campeonato de futebol a voltar foi o K-League, a Liga Sul-Coreana. O embate entre os times Jeonbuk Motors e Suwon Bluewings marcou a abertura da competição e o retorno do esporte após a pandemia da COVID-19, finalizando a primeira partida com a vitória do Jeonbuk Motors, com um placar de 1×0 sobre o time adversário, e com as arquibancadas praticamente vazias e as poucas pessoas presentes no local se protegendo com máscaras. Atualmente, a competição está na rodada 17 de 22, uma vez que a sua estreia ocorreu no dia 5 de maio de 2020.
A grande e esperada final da Liga dos Campeões da UEFA, aconteceu no último dia 23 de agosto de 2020. A Champions é uma competição anual de clubes de futebol a nível continental, organizada pela União das Associações Europeias de Futebol e disputada por clubes europeus. Grandes clubes como o Paris Saint-German (PSG), Bayern de Munique, Juventus e Manchester City, passaram pelos gramados europeus. No Brasil, o canal TNT alcançou a liderança de audiência ao transmitir o jogo entre Manchester City e Real Madrid.
Conversamos com Rafael Reis, colunista de futebol internacional da UOL e professor de Jornalismo da Universidade de Ribeirão Preto, e com Maria Eduarda Cardim, jornalista do Correio Braziliense e uma das autoras do blog Elas no Ataque. Chamamos dois especialistas para discutirem sobre um mesmo assunto: o futebol.
Gerou-se um debate em torno da real necessidade, e do risco ainda existente em autoridades europeias e brasileiras permitirem a volta da prática dessa modalidade tão popular em uma situação pandêmica. “Eu acredito que na Europa não houve uma precipitação. Acharia mais correto, originalmente, ter simplesmente terminado a temporada e voltar com o futebol agora em agosto”, contou Rafael Reis.
“O Brasil é um pouco diferente. Ele retornou com o futebol quase na mesma época da Europa, sendo que estava a alguns meses ‘atrasado’ em relação a pandemia. Então, eu creio que houve uma precipitação, a prova disso foram alguns jogos terem sido muito afetados por causa de testes positivos de jogadores”, opinou. “É preciso analisar isso com base na situação de cada país e com os números da pandemia nesta determinada nação ou local. Acho que no Brasil, o retorno foi precipitado até porque de acordo com pesquisadores e especialistas, muitos estados ainda não controlaram efetivamente a transmissão do vírus”, conta Maria Eduarda Cardim.
Com o interesse de visar pela saúde pública e segurança da população, as partidas de futebol tiveram início com a plateia vazia, sem nenhum torcedor no estádio. No local, apenas representantes de veículos de imprensa, funcionários e a delegação dos clubes têm a entrada permitida. E logo, surge a associação: Estádios vazios igual a zero lucro? “Na verdade, a bilheteria não é um dos principais meios de faturamento dos clubes, pelo menos não dos grandes. Esses clubes ganham muito mais dinheiro com patrocinadores e também com venda de direitos de transmissão dos seus jogos”, apontou Rafael Reis.
Já a jornalista Maria Eduarda Cardim comenta: “Acredito que talvez os clubes busquem outras alternativas, como oferecer mais benefícios para que os torcedores se tornem sócios ou até fazer uma possível cobrança da transmissão de jogos pelas suas próprias TVs, como o Flamengo tentou fazer”.
Durante toda a cobertura da Liga dos Campeões da UEFA, houve muito alvoroço, recordes de audiência do público brasileiro, torcidas fervorosas, além de sentimentos como a ansiedade e expectativas altas para conhecer o próximo grande campeão europeu, mesmo estando no Brasil. “Eu acho que tem muito a ver com a carência do futebol brasileiro, com o nível técnico muito baixo que temos hoje, com a falta de paixão que os times daqui despertam. Basicamente, se você quer ver futebol de alto nível, você tem que ver futebol europeu”, relata Rafael Reis. “Acho que a presença do Neymar na fase final da competição, por exemplo, movimentou também o interesse de fãs e até haters em assistir os jogos. A mudança do formato da competição para jogos únicos também ajudou já que antes um espaço de uma fase para outra era bem maior”, expôs Maria Eduarda Cardim.
Enquanto o mundo espera pacientemente por uma cura efetiva para a COVID-19, só resta adaptar a rotina para as mudanças bruscas que aconteceram e ainda acontecem. Hábitos e momentos de lazer também se encaixam na categoria, como ir ao estádio assistir o time do coração em tempo real. “Acredito que muita coisa vai ter que mudar até uma solução definitiva como uma vacina. Então, até lá veremos uso de máscaras fora de campo e os protocolos necessários para uma partida segura”, finalizou a jornalista e uma das autoras do Elas no Ataque, do Correio Braziliense.