Existe espaço para mulheres no futebol?

As mulheres são afetadas em diversas áreas devido a uma visão antiga construída pela sociedade, onde eram vistas como inferiores e incapazes. No esporte, não é diferente, as mulheres ainda enfrentam barreiras para conseguirem se encaixar no universo esportivo criado e dominado por homens. O futebol feminino não é levado a sério, como exemplo, recentemente a transmissão da Champions League masculina bateu recordes de visualizações simultâneas, enquanto a final feminina, mesmo sendo transmitida por uma grande emissora, não teve a mesma visibilidade.

A Champions League feminina começou a ser disputada em 2001 e, dezenove anos após o primeiro campeonato, a ESPN transmitiu os jogos a partir das quartas de final e não somente a final como ocorrido nos anos anteriores. Além disso, os jogos foram narrados por mulheres, o que é muito incomum. “Quanto mais narradoras e mais oportunidades tivermos, vamos cada vez mais conquistar nosso espaço”, afirma a narradora Renata Silveira.

Assim como em muitos outros cenários dominados por homens, o futebol feminino evolui gradualmente, sendo cada conquista vista como uma vitória. Segundo Ana Cláudia Mayumi – Japa, treinadora de futebol, futsal e colaboradora do projeto Jogue Como Uma Garota, a evolução do futebol feminino no Brasil está muito ligada a forma que as mulheres são tratadas fora dos campos: “Para que existam maiores passos precisamos também resistir a toda uma estrutura patriarcal em relação a presença de nós, mulheres, nos campos, quadras, gramados e em diversos setores da nossa sociedade”.

Quando o assunto é esporte, não é só dentro dos campos que as mulheres têm dificuldade em encontrar seu espaço. Seja na narração, na apresentação ou em qualquer outra área do mundo esportivo ainda existe muito preconceito. “As pessoas duvidam da nossa capacidade pelo fato de nós sermos mulheres.Temos que estar o tempo todo provando que somos capazes de estar ali e não temos tempo de errar. Porque se a gente erra, somos burras, mas se o homem erra, apenas se confunde”, explica Renata.

Nos últimos anos, alguns acontecimentos ajudaram o futebol feminino a se destacar, como a Copa Do mundo, na França, em 2019. Todos os jogos foram com estádios lotados e as transmissões com alta audiência . Pela primeira vez a Rede Globo transmitiu um jogo da seleção brasileira na TV aberta e essa atitude foi um grande divisor em relação à visibilidade e divulgação da modalidade. De acordo com a Japa, “Essas ações acabam gerando muita proximidade do público com as jogadoras e, principalmente, contribuem para que sejam quebrados diversos estereótipos e rótulos que mulheres que jogam futebol enfrentam”.

Do mesmo modo que todos os esportes, a mídia é fundamental e extremamente necessária para a divulgação das competições. Além da disseminação das informações sobre o futebol feminino, tem a questão da representatividade. “A partir do momento que você liga a televisão e escuta uma voz feminina narrando o jogo, com certeza se torna uma inspiração para outras meninas fazerem o mesmo”, afirma a narradora.

Em um cenário onde o futebol feminino está cada vez mais ativo e sendo procurado pelo público, os times começaram a perceber que precisam dar às atletas o mesmo suporte que dão aos jogadores. Na última Champions League feminina, os times que se destacaram foram aqueles que procuraram igualar as oportunidades masculinas e femininas. Para isso, é necessário dar a mesma qualidade de treinamento para que elas desenvolvam seus níveis técnicos dentro do campo, como Lyonn, Bayern e Juventus. A narradora Renata Silveira questiona: “Se está dando prêmio, título e retorno, por que não oferecer as mesmas estruturas para ambos? Porque se o espetáculo é bom, o público vai atrás disso”.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *