O Brasil e o campo

A primeira grande forma de organização espacial e social de nossos ancestrais se deu pela descoberta do fogo e da agricultura. Até então, eles eram obrigados a se deslocar em busca de alimentos para a sobrevivência. A utilização da agricultura marcou esse novo tipo de estruturação, já que o homem se fixou em um lugar, e a partir daí, ele pôde transformar o espaço.

O processo de urbanização vivido pelo Brasil, na segunda metade do século XX, obrigou o governo a investir na modernização da agricultura, até então caracterizada pela baixa produtividade. Naturalmente, o setor adquiriu importância cada vez maior no Produto Interno Bruto (PIB).

Historicamente dependente do agronegócio, o Brasil até hoje não conseguiu incorporar à sua pauta de exportações produtos de alta tecnologia. Graças a numerosa quantidade de terras férteis, os insumos agrícolas representam boa parte do que vendemos para o exterior.

O professor de geografia, Jorge Teixeira, considera arriscado uma dependência tão grande do campo. “Não devemos abrir mão do agronegócio, até pelas características geográficas do Brasil, mas para o país crescer, precisamos agregar valor aos produtos que vendemos. Do jeito que estamos hoje, somos muito vulneráveis a uma safra ruim e a oscilação no preço das commodities”, alertou Teixeira.

Em 2017, as commodities impulsionaram o superávit de US$ 67 bilhões da balança comercial e foram responsáveis por 52% das exportações brasileiras, de acordo com o Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços. A soja permaneceu em 2017 como o principal produto exportado pelo Brasil, e a China foi o maior destinatário do produto.

Em um momento em que os impactos da monocultura vem sendo discutidos, a agricultura familiar surge como uma opção, mas ainda precisa ser melhor trabalhada. Segundo o professor Teixeira, falta um grande projeto para tornar o cultivo de pequenos produtores a principal fonte de abastecimento das prateleiras. “Para ser sustentável é preciso desenvolver melhor a produção e organizar a distribuição de maneira mais eficiente”, explica.

O agricultor familiar Gilberto dos Santos, 62, conta que sua produção é comercializada também para a população, mas o principal destino é a prefeitura municipal. “Faço parte de um grupo de (produtores) orgânicos e de uma cooperativa. Vendemos nossa produção para ser distribuída na merenda escolar, e nas feiras livres”, contou Gilberto.

Além disso, outro ponto do debate é que, apesar dos avanços tecnológicos no campo, cerca de 5,2 milhões de pessoas ainda passam fome no Brasil, segundo a ONU.

Teixeira explica que, devido ao fato de a agricultura deixar de ser para subsistência e ter se tornado um negócio, a distribuição não consegue ser irrestrita. “A produção de alimentos virou um empreendimento. Não se trata apenas de alimentar, o intuito é o lucro. Se por um lado a fome teve um crescimento nos últimos anos, a obesidade também aumentou. Precisamos achar um equilíbrio”, disse o professor.

A agricultura evoluiu, mas ainda existem problemas. Lidar com as questões ambientais, como degradação do solo e uso de agroquímicos, é fundamental para alcançarmos um mundo que não comprometa a capacidade de atender as necessidades da futuras gerações, mas que também não deixe de ser sustentável.

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