A esperança de um novo começo

         O ano de 2019 é um marco para o esporte feminino

No ano em que a primeira Copa do Mundo de Futebol Feminino foi transmitida no Brasil em grandes emissoras, o debate sobre a participação das mulheres no esporte retorna. Com grandes jogadoras se colocando à frente da discussão como Marta, Cristiane e a norte-americana Megan Rapinoe, os holofotes se voltam às promessas de incentivos e os rumos da nova era do esporte. 

Marta e sua chuteira do projeto GoEqual que visa a igualdade de gênero no esporte

O cenário brasileiro de esporte e futebol feminino é permeado de histórias comoventes e mulheres batalhadoras que buscam trazer a inclusão e o incentivo ao esporte. Aline Pellegrino é um exemplo. Ex-zagueira da seleção, atualmente ocupa a função de Coordenadora do Departamento de Futebol Feminino da Federação Paulista de Futebol e é Co-Diretora do Guerreiras Project, coletivo formado por ativistas, atletas, artistas e acadêmicos que atuam em prol da igualdade de gênero e da visibilidade para o futebol feminino. “A questão é que as mulheres são historicamente vistas como usurpadoras do espaço masculino dentro do esporte, que é um fenômeno construído para provar virilidade, força e, tradicionalmente, esteve nas mãos dos homens. E esse é um fenômeno que não se segura mais”, afirmou Pellegrino no programa Entre Vistas da TVT.

Andressa Alves e Cristiane visitaram a peneira do Paulista Feminino e foram recepcionadas por Aline

Isaque Guimarães é coordenador e criador do projeto social ACAFF- Academia de Futebol Feminino, criado em 2015. O projeto começou com o objetivo de dar espaço a meninas que procuravam a prática da modalidade. Isaque usa Aline como modelo: “Eu vejo o esforço dessa mulher para fazer competições e organizar o campeonato paulista das categorias de base. Mesmo com pouco, ela consegue fazer bastante”, disse o coordenador. 

Após a Copa, o engajamento com o esporte feminino cresceu e cada vez mais meninas procuram a ACAFF e outros projetos, segundo Isaque. “Começamos com meninas de 15 anos e hoje temos categorias a partir de 7 anos. Não só cresceu o interesse por parte das atletas, como o dos pais que deixam o preconceito de lado e apoiam as meninas”, contou. “Muitas meninas nos procuraram depois da Copa. Muitas vieram motivadas depois da mensagem que a Marta passou, muitas viram que algo pode ser feito dentro e fora de campo. Mas isso é feito pelas meninas e não por quem realmente deveria”, menciona Isaque.

Fotos de divulgação dos treinos da ACAFF

Apesar de avanços e da visibilidade dada pela Copa Feminina de 2019, muitas medidas de incentivo e o crescimento de oportunidades são necessários para o desenvolvimento pleno e a adesão cultural do esporte feminino. Para Isaque, ainda temos muitos passos a dar em relação à valorização do esporte feminino. “As promessas que foram feitas durante a Copa estão acontecendo, mas não da forma como deveria. Fazem por fazer, não há planejamento e organização. As meninas jogam sem calendário de descanso e sem cobertura de banco de reservas”, comenta. 

A força de vontade e o desejo de participar de esportes existe e cresce em meninas, garotas e mulheres ao redor do país e do mundo. Porém, a iniciativa não deve partir só delas. “As meninas estão motivadas, querem jogar, querem aprender e dar sequência, mas se as entidades competentes não fizerem nada, de pouco vale o esforço das meninas”, reitera Isaque.