A liberdade mascarada por imposições

Uma resposta negativa para a pergunta “você quer ter filhos?”, é capaz de gerar interessantes debates e reflexões.

Há muito tempo, tem-se a concepção da mulher como dona da casa, cozinheira e mãe, enquanto o marido era responsável pelo sustento do lar e da família. Consequentemente, a sociedade torna-se patriarcal, devido à distinção e poder com que os homens eram imaginados e vistos.

Em tempos modernos, a realidade é outra: mulheres representam de 25% a 30% do total de investidores no Brasil, segundo dados divulgados este ano pela Valor Investe, pertencente à Globo. A atualidade foi capaz de mudar algo que, até então, era realizado por homens, em sua maioria. Parte da população feminina contemporânea almeja alcançar a tão sonhada independência financeira, deixando de vez o passado para trás. “Meu conselho é: a vida não vai ser exatamente do jeito que queremos, precisamos ter meta e muito foco. Muitas vezes vamos trabalhar nas áreas que não queremos. Mas, foque no seu desenvolvimento, aonde está dando dinheiro, depois procure se realizar profissionalmente em algo que goste. Fica muito mais fácil, acredite”, conta Natasha Rattacasso, empresária e influenciadora.

Estar em um relacionamento amoroso e constituir uma família acabaram deixando de ser uma prioridade para elas, ou simplesmente a segunda opção é deixada de lado, para talvez ser repensada no futuro. O que não é o caso de Rattacasso. Natasha é formada em Análise e Desenvolvimento de Sistemas, empresária, youtuber e influenciadora digital há sete anos. A especialista é a favor do Movimento Child Free, com enfoque para mulheres que não desejam ter filhos.

No Brasil, muitas meninas e mulheres são pressionadas quando o assunto é ser mãe. Ainda mais, quando seus status são de casadas ou recém-casadas. “Falam que começam a encher muito o saco a partir dos 30. Na internet sempre aparece um ou outro comentário sobre isso, por exemplo, não posso falar que algo muito bom aconteceu na minha vida, que já acham que é filho”, argumenta a empresária.

“Às vezes, me dá uma raiva. Porque sei que não é só um ‘cadê os filhos’, mas sim, alguém tentando me dizer que não serei feliz sem filhos, que uma mulher só se realiza sendo mãe, que fui criada com objetivo de ser mãe e que logo terei o ‘instinto maternal’”, relata a influenciadora e acrescenta: “Eu sei o que significa ser mãe na nossa sociedade, o peso do machismo cai ainda mais em cima. E isso me incomoda. Precisamos quebrar esses tabus”.

Na mídia, o alvoroço torna-se ainda mais comentado. Um exemplo é a artista Luísa Sonza, muito criticada e alvo de xingamentos depois de ter dado uma declaração no programa Mister V, da TV Vogue. A cantora deixou claro que não tinha a pretensão de ter filhos biológicos, pelo menos a curto prazo. Na época, a jovem tinha recém-completado 20 anos e era casada. Independente da idade, muitas mulheres são envolvidas em um ciclo de cobranças a respeito desse tema.

“Quando o homem não quer, ele não é pai. E, para sociedade e para todo mundo, está tudo bem ele não querer ser pai. Ele pode abdicar disso, você (mulher) não vai poder e mesmo quando puder, os maiores julgamentos serão para você”, afirma Rattacasso. Assumir o papel da maternidade requer dedicação em vários setores, como planejamento, amor, disposição, tempo e uma condição financeira e econômica suficientemente estável, pois apesar de tudo, gastos serão necessários.

Ser mãe é uma escolha individual, própria da mulher. Requer tempo, indagações como: “Eu me vejo sendo mãe no futuro?”, além de autoconhecimento e amor-próprio. Cada mulher tem o seu tempo, a sua percepção da vida, o que rodeará esse momento de incertezas. “Tenha filhos porque você quer ter filhos. E se não quiser ter? Tá ótimo. E se está com dúvida? Só tenha quando tiver certeza!”, finaliza Natasha.

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