Freedom of Press

Informação além da adversidade

A reinvenção e readaptação da imprensa brasileira em meio a uma epidemia mundial

Na pandemia de COVID-19, inúmeras profissões se transformaram e se adaptaram à atípica realidade que vive o mundo. No setor da comunicação, o jornalismo foi uma das áreas mais impactadas pela pandemia, já que a profissão é responsável por levar informação à sociedade e construiu sua base através do contato direto com a população.

Por isso, como forma de continuar a exercer sua importância social, veículos de mídia promoveram mudanças nas dinâmicas de trabalho, como forma de preservar a saúde de seus funcionários. Nathalia Castro, repórter da TV Globo, conta que seu cotidiano passou por várias mudanças: “A Globo criou um protocolo rígido para proteger os funcionários. A nossa rotina foi totalmente transformada. Passamos a fazer muitas entrevistas pela internet, nosso material de trabalho é cuidadosamente higienizado, começamos a usar máscaras de proteção na frente das câmeras”.

Dada sua importância, a imprensa foi classificada em março pelo Governo Federal como uma atividade essencial, o que proibia a restrição da circulação de jornalistas e outros profissionais do setor. Nathalia relata que, mesmo durante a quarentena, ainda precisou realizar importantes coberturas jornalísticas. “Acompanhei o drama de famílias em busca de leitos de UTI, os atrasos nas construções dos hospitais de campanha no Rio, as denúncias de corrupção, a situação dos transportes públicos, as filas nas agências da CEF. Estamos na rua arriscando nossa saúde para cumprir nossa missão. Faço isso com orgulho”, comenta a repórter.

Entretanto, o mesmo governo que classificou a imprensa como uma atividade essencial, é também responsável por inúmeros ataques aos profissionais da comunicação. De acordo com dados levantados pela Fenaj (Federação Nacional dos Jornalistas), o presidente Jair Bolsonaro fez 245 ofensivas contra o jornalismo brasileiro no primeiro semestre de 2020, o equivalente a dez ataques por semana. Além do momento de grande polarização ideológica, para a jornalista, as agressões à imprensa tem como objetivo impedir que a população não tenha informação sobre algo e conta um ocorrido que marcou seu trabalho nesses últimos meses: “No Rio, minha equipe foi atacada por funcionários da prefeitura, pagos com dinheiro público, que faziam plantão na porta de hospitais municipais para atrapalhar a reportagem. Denunciamos o caso no RJ2”.

Nessa pandemia, as inúmeras notícias falsas sobre o coronavírus também foram compartilhadas em altíssima velocidade e quantidade pelas redes sociais. Agências especializadas em checagem de fatos e até mesmo a seção Fato ou Fake do G1, por exemplo, tiveram ainda mais trabalho para diferenciar o que é falso ou verdadeiro em assuntos de extrema relevância pública. Para a jornalista, o futuro da imprensa passa muito pelas adversidades provocadas pelas informações falsas. “O jornalismo mundial tem um desafio gigantesco chamado fake news. Nas redes sociais, as notícias falsas se espalham seis vezes mais que conteúdos verdadeiros. A fake news vende mais. A gente tem muito trabalho pela frente”, alerta Nathalia.

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