A política das Américas fala o mesmo idioma

 As diferenças e semelhanças que fazem o continente único

 

O cenário político das Américas sempre foi, de certa forma, muito parecido e, de outra, muito diferente. Nos últimos anos, governos populares em contraponto a governos liberais e embates de diferentes crenças políticas permeiam as gestões de países latino-americanos. E o curioso é como países tão diferentes dentro de um continente podem ser tão próximos no aspecto sócio-político e econômico. 

No Chile, por exemplo, o aumento no valor das contas de luz e das passagens do transporte público, ocasionaram em outubro manifestações similares às do Brasil, em 2013. 

Manifestações chilenas em outubro

A nova geração de chilenos, que não passou pela ditadura, assim como os brasileiros, busca espaço nas reivindicações e protagoniza as novas lutas. O professor Filipe Giuseppe, Doutor e Mestre em Geografia Humana pela FFLCH-USP, comenta: “Essa força da população latino-americana tem demonstrado que ela é capaz de realizar transformações profundas”. 

Para Giuseppe, a semelhança dos movimentos nesses países começa com o fenômeno de eleições representativas no começo do século XXI. “Pela primeira vez, no século 21, a esquerda chegou no poder na América Latina. Pela primeira vez as pessoas se sentiram representadas em seus governos”, avalia. O professor ainda explica que a transformação é algo inerente nesse contexto. “A força da população em ser protagonista de suas instituições políticas aparece anos após serem aleijadas pela elite oligárquica e pela elite econômica, no caso do Brasil”. 

As semelhanças entre os cenários políticos dos países existem pois todos partem de origens parecidas. Colonização, exploração e escravismo são os três pilares da transformação das Américas. “O sistema colonial construiu uma sociedade com uma divisão [social] muito grande e extrema pobreza. A partir do momento em que foi instituída a República, se proibiu a mão de obra escrava, mas a sociedade não teve a oportunidade de ascender ao poder político, ficou fora da participação de instituições e do poder de influência. Então, no século XX, essas Repúblicas começam a se transformar em democracias e, por isso, ainda vão ter uma grande dificuldade de inserção política dessas pessoas”, complementa Filipe. 

Para o professor, nossa democracia é muito jovem e é natural que tenhamos algumas dificuldades no processo de inclusão. “A população foi historicamente aleijada de ascender ao poder político. Por isso, a partir do monopólio do poder político e da exploração da mão de obra, criou-se a cisão entre elite e povo”. 

Apesar de estarmos mais perto de movimentos latino-americanos, o fenômeno é global. “Todo mundo, todas as gerações, têm o ímpeto de mudança. Toda geração tem uma luta que elas têm que travar. E o contato intergeracional permite que a sociedade se oriente em uma bandeira ou luta que leve a transformação das estruturas políticas, econômicas e sociais”, conclui Filipe.