A sustentabilidade na folia

Os blocos, os foliões, as músicas, os trios. A produção de lixo geralmente não é a primeira coisa que pensamos quando falamos em Carnaval. Cerca de 464 toneladas de lixo foram retiradas das ruas de São Paulo após a festa, de acordo com Prefeitura do Estado, em 2018. E é pensando nesse fator que a “pegada” sustentável também atingiu a folia deste ano.

A preocupação com os glitters foi uma das mais alarmantes, uma vez que o queridinho dessa época do ano, independente da região do Brasil em que você esteja, chega a ser uma grande ameaça para a vida marinha. Como? Na verdade, é mais simples do que imaginamos: o glitter que utilizamos é feito de plástico, que não é biodegradável. Quando chegamos cansados de tanto pular e vamos direto para o banho só querendo tirar toda a sujeira acumulada no corpo, as partículas descem pelo ralo e passam pela rede de esgoto, mas não conseguem ser filtradas nas estações de tratamento. Assim, acabam nos oceanos e são consumidos pela fauna marinha, segundo a Universidade Mossey (NZ) e Imperial College London.

Mesmo sem saber exatamente qual o tamanho do impacto causado pelos glitters, os cientistas alertam para a quantidade de microplásticos que são despejados nos mares, de acordo com a BBC News Brasil. A partir disso, ideias começaram a surgir para solucionar esse problema: os glitters biodegradáveis ganharam fama nesse Carnaval. Outras dicas como tirar o glitter com demaquilante ou com uma fita adesiva antes do banho, também se fazem úteis e ecofriendly depois da folia.

E ao pensar em como fugir de todo esse desperdício e da produção capitalista, que a Lab77 foi criada há 4 anos. A ideia de sustentabilidade surgiu desde o início e a produção somente a partir da demanda é uma das principais características da loja carioca. Pensando também na ideia de sustentabilidade, que eles decidiram lançar uma linha de Carnaval esse ano.

“A ideia de produzir essa linha de Carnaval foi um pouco complicada. No início eu apostei numa coleção que tinha muito brilho, paetê, materiais metalizados. E o Sergio, meu sócio, quem realmente faz mais pesquisas e tem a cabeça mais sustentável da empresa, falou ‘cara não dá, a nossa proposta é de sustentabilidade, não tem como a gente abandonar isso’”, conta Guilherme Pecegueiro, designer da marca. Ele afirma que acabou se conscientizando e percebeu que só o fato de produzirem a partir da demanda não seria suficiente para continuar com a ideia sustentável, não se para isso tivessem que usar o material que tinha imaginado.

A Poliamida biodegradável foi a solução que encontraram. Depois de atrasarem as pesquisas e o design da linha de Carnaval à procura de um material que se encaixasse, Guilherme diz “não dá para escorregar nunca”.

Mas como nem tudo são flores, a sustentabilidade tem seu preço. Ao ser questionado sobre uma possível elitização da pegada sustentável, Guilherme explica: “A ideia que a gente tem é trabalhar com melhor preço possível e tentar fazer acontecer, mas não fácil não. Para combater a elitização, acho que a melhor forma talvez seja a comunicação. Você conseguir explicar para as pessoas que a aquele preço é dessa forma não por uma questão de público alvo ou de lucro, mas sim por uma questão de sustentabilidade. Conseguir passar os valores da empresa e os valores que estão envolvidos naquele produto que ela está consumindo” afirma Guilherme.

foto: Brenno Carvalho / Agência O Globo