A volta contestável dos cinemas

No último dia 09 de outubro, o governo de São Paulo anunciou que o Estado se encontra na fase verde no plano de reabertura.

Com quase seis meses sem poder ver as telonas, o Estado de São Paulo entrou na fase verde do plano de reabertura e, no sábado, 10 de outubro, alguns cinemas reabriram pela primeira vez desde o início da pandemia. Durante o período de isolamento social causado pelo novo coronavírus, milhões de pessoas utilizaram serviços de streaming como Netflix e Amazon Prime, que substituíram as salas lotadas de cinemas nos finais de semana. Para alguns foi um bom passatempo, mas para outros eles não supriram de vez a experiência de estar completamente focado no filme como em uma sala de cinema.

Mesmo com o Estado de São Paulo na fase verde no plano de reabertura, os cinemas só podem operar com cerca de 60% do seu total e outras medidas foram tomadas para tentar garantir a segurança de todos da entrada a saída, como apenas duas pessoas do mesmo grupo podem se sentar juntas e, a partir do momento em que se compra um ingresso, as poltronas ao redor são bloqueadas.

A crítica de cinema do “Feito por Elas”, Isabel Wittmann, 35, fala sobre sua visão a respeito da reabertura dos cinemas em São Paulo e como a política está envolvida. “Como usuária de cinema, sinceramente eu acho que as decisões que estão sendo tomadas não seguem uma coerência, estão sendo tomadas mais em um sentido político, talvez até econômico, do que pensando na pandemia e nos resultados que isso vai ter para as pessoas”.

Foi perguntado a Isabel se ela voltaria às salas de cinema agora que o governo autorizou: Não tem como ter controle do que vai acontecer nesse ambiente durante as horas que você ficar dentro desse espaço. Eu como pessoa que frequenta o cinema tanto para lazer, quanto no âmbito profissional, não me sinto segura, nesse momento, para retornar a uma sala de cinema, independente das medidas que sejam tomadas em termos de regras de segurança”.

A jornalista Cecília Barroso, 46, conta que não é a favor dessa retomada, mas também relata que aqueles que são realmente apaixonados pela experiência de ir ao cinema, como ela, não trocariam as telonas. “Uma parte do público vai deixar de ir ao cinema sim, mas para o pessoal que é assíduo frequentador mesmo, não tem como substituir, mesmo que você gaste o preço de um ingresso pagando um mês inteiro de streaming”.

Muitas pessoas não se sentem seguras de entrar em uma sala de cinema sem a vacina contra a COVID-19 e acreditam que essa reabertura dos cinemas foi um tanto precoce. Cecília, que também é editora do Cenas de Cinema, fala como seria a retomada ideal no nosso país. “Na minha opinião, o Brasil teria que ser diferente. O problema não é só com os cinemas, mas com o descaso geral com a doença, como se fosse só uma gripezinha mesmo. A gente vê as pessoas se amontoando nos bares, nas festas. Não existe uma consciência. É difícil falar de retomada ideal em uma sociedade como a brasileira, infelizmente. Aqui, só depois da vacina”.

Durante a pandemia todos tiveram que se adaptar e diversos festivais de cinema online foram criados para todos os públicos, se tornando uma nova forma de consumir os filmes, muito mais acessível. A jornalista e documentarista Flavia Guerra conta um pouco sobre esses festivais: “Eu adoro ver filme em casa, eu acho maravilhoso que a gente está tendo a oportunidade de ter um monte de festivais online, todos os organizadores de festival tem dito pra mim que vai se manter a programação presencial principal e eu imagino que um adendo online vai ocorrer”.

O Brasil se encontra em uma situação completamente diferente dos outros países, foram mais de 5 milhões de casos e mais de 150 mil mortes causadas pela COVID-19. A situação ideal para a reabertura dos cinemas seria com a vacina, mas ainda não há certeza da data em que será distribuída ao público.

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