Onde foi parar a carne?

“O veganismo é uma forma de viver que busca excluir, na medida do possível e do praticável, todas as formas de exploração e de crueldade contra animais, seja para a alimentação, para o vestuário ou para qualquer outra finalidade. Dos veganos junk food aos veganos crudívoros – e todos mais entre eles – há uma versão do veganismo para todos os gostos. No entanto, uma coisa que todos nós temos em comum é uma dieta baseada em vegetais, livre de todos os alimentos de origem animal, como: carne, laticínios, ovos e mel, bem como produtos como o couro e qualquer produto testado em animais”. Foi assim que a The Vegan Society, da Inglaterra, a mais antiga entidade vegana do mundo, definiu o estilo de vida livre de origem animal.

A cada dia, a quantidade de pessoas que se preocupam com a origem de seu alimento e de tudo aquilo que consome aumenta. Segundo uma pesquisa realizada pelo IBOPE, em 2018, 55% dos entrevistados consumiriam mais produtos veganos, caso houvesse uma melhor sinalização na
embalagem. Na mesma pesquisa, 14% dos brasileiros se declararam vegetarianos, apontando um crescimento de 75% nas regiões metropolitanas em relação a 2012.

Para a nutricionista formada pela Universidade de São Paulo (USP), Adriana Carrieri, de 27 anos, o veganismo é uma forma de alimentação acessível e saudável. “Um exemplo simples: hoje, comparando o valor do quilo da carne com o das leguminosas, grupo alimentar que fornece a maior parte das proteínas aos veganos, a carne é em média 10 vezes mais cara. E o segredo é não complicar e se render aos modismos que a indústria muitas vezes lança a preços altíssimos para esse público, com promessas de benefícios extras à saúde. É possível compor a alimentação do vegano com ítens simples do cotidiano, como o famoso arroz com feijão, castanhas, legumes e verduras. Além disso, apesar da exclusão de alguns grupos alimentares, essa pode ser sim uma forma saudável de se alimentar”, explica.

Adriana também comenta sobre os esteriótipos e as críticas que surgem. “Acredito que isso ocorra pela exclusão de um grupo alimentar muito expressivo na maioria das culturas, especialmente as ocidentais. É algo que está muito presente no dia a dia. Basta lembrarmos de um prato típico de cada cultura, eles sempre levam algum tipo de alimento de origem animal na receita, alguns exemplos: a feijoada brasileira, a lasanha italiana, a bacalhoada portuguesa e o hambúrguer dos americanos. O que todo mundo esquece é que tem milhares de possibilidades e substituições que permitem fazer esses (e outros) pratos sem usar os produtos de origem animal e deixá-los nutritivos e tão deliciosos quanto a receita original. Temos uma infinidade de alimentos de origem vegetal à nossa disposição para serem usados e que ficam esquecidos por conta dessa cultura tão presente de que a os itens de origem animal são indispensáveis e devem estar sempre à mesa. Esse hábito foi incorporado dessa forma tão intensa às culturas também como uma forma demonstrar status e poder econômico, já que a carne é até hoje o item mais caro do prato”, expõe.

Para o estudante Guilherme Porrino, 19, que iniciou no vegetarianismo há seis meses, a transição do vegetarianismo para o veganismo é complicada. “Ainda não consegui me desvincular do queijo, leite e seus derivados, principalmente parar com os doces. É difícil cortar alimentos que estão na nossa vida há muito tempo, é muito radical, porque são coisas que gosto muito, mas estou diminuindo. Algo que dificulta é a falta de alimentos nos grandes lugares, como por exemplo em praças de alimentação, muitos têm queijo e outros derivados do leite ou a marca e o produto não são veganos, com produção de resquícios de animais”, conta.

Ele explica um pouco sobre a sua alimentação diária: “Consumir vegetais, legumes, grãos é acessível, mas trocar produtos como manteiga por manteiga vegana e chocolate por chocolate vegano acaba se tornando extremamente caro. Os acessíveis são os alimentos que você encontra na feira. Mas para mim, o mais importante é zelar pelo meio ambiente e pela vida dos animais. Tudo vale”.

Não se pode prever o futuro da sociedade, mas zelar pelo meio ambiente, animais e saúde é o que muitas pessoas já tem feito, independente do que escutam de maneira equivocada sobre o novo estilo de vida e alimentação. Será que esse futuro vai excluir das mesas dos lugares do mundo a tão conhecida carne? Para Adriana não existe uma única solução e estilo. “Alimentação envolve crenças, tradições, hábitos e valores pessoais, o que torna difícil selecionar uma única forma de se alimentar como a mais correta de todas. Assim, é importante que cada indivíduo encontre o melhor caminho para se alimentar de forma saudável e consciente. Os nutricionistas estão aí para ajudar nessa tarefa, que é tão difícil hoje em dia por se ter inúmeros tipos de dietas e filosofias diferentes sendo disseminadas”, conclui.