Bela obsessão

Nunca fui uma adolescente pé no chão, vivia sonhando. Quando olho para trás, posso encontrar a mim mesma de maneira inquieta e o mais genuína possível. Bom, crescer no interior da Podláquia moldou quem sou hoje e ele, certamente, nunca sairá de mim. Não estou sugerindo que isto seja algo positivo, mas quando volto para tal lugar, reconheço pedaços de mim que havia perdido ao deixar aquela pequena província.

Quando me dirijo às estações de trem de minha amada Varsóvia, percebo o quão pequena sou. Lá é sem dúvidas um ótimo lugar para recomeçar e reaprender, mas, o que fazer quando os seus anos de amadurecimento e autoconhecimento são, praticamente, apagados por uma sombra que, independente de onde você esteja, persegue os seus pensamentos? Quando tinha apenas treze anos e não possuía capacidade de distinguir entre a fantasia e o real, fiz uma amiga. Para mim, esta sombra era tão real e tão extraordinária que a tornei minha melhor companhia e mais bela obsessão. Ela era o melhor aspecto do interior da Podláquia. Hoje, gostaria que minha imensa paixão por ela fosse embora com o vento.

Com o passar dos anos, entrei em uma jornada incansável rumo ao autodescobrimento. Esta jornada não foi planejada, tampouco notada enquanto acontecia. Por causa dela, as minhas emoções e atitudes estão organizadas como uma fileira de livros em uma biblioteca. De vez em quando há algum indivíduo que aparece por lá e faz uma bagunça, mas nada que seja difícil de arrumar. Aqui em Varsóvia sou um passarinho, mesmo que ainda filhote. De onde eu vim, não passava de um ovo. Apesar de ter trilhado um belo caminho, a sombra que tanto me assombra nunca se foi. Devo dizer que ela faz o máximo para passar despercebida. Na verdade, ela não quer estar lá, não quer me olhar. Então por que ela permanece presente em minha alma e mente? Arrisco dizer que meu senso e energia se viraram contra mim, impedindo-me de deixá-la.

A sombra é geralmente muito gentil, mas tem a capacidade de te ferir fortemente quando não te quer mais à sua frente. Ela tem uma inteligência impressionante, que atrai qualquer um que a aborda. Ela é uma feiticeira, que te joga um feitiço com o intuito de impedir que você possa esquecer que um dia a conheceu, te fazendo delirar. Você pode até tentar negar, mas você ama a sombra. Ela te encantou, e ninguém além de você consegue entender como. Explicar para as pessoas sobre o encanto é um ato patético, pois o feitiço vai além da compreensão delas. Se eu parar para pensar, percebo que também não consigo entender. Talvez daqui alguns anos eu passe a compreender o que aconteceu comigo, mas acredito que ainda sou muito nova para conseguir enxergar a situação com clareza o suficiente para chegar à uma explicação lógica.

Não pertenço mais a Podláquia, agora sou uma garota da capital. Ninguém me conhece, ninguém sabe como eu costumava ser. Tenho uma nova vida, não me encontro mais nas formas antigas. Porém, uma coisa é certa: fui presenteada por minha cidade natal com um sonho quando era menininha, que logo apresentou-se como um vício que perdura até hoje. Isto pode até soar engraçado, mas no final das contas, não quero me esquecer da sombra, não quero que ela vá embora. Pensando melhor, ela pode andar de mãos dadas comigo o quanto quiser, basta ela pedir.

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