Tarot, romance e jazz

Se eu pudesse escolher uma vida, eu seria uma cartomante latina com uma loja no French Quarter em Nova Orleans. Eu sentaria todos os finais de semana em uma pequena mesa do lado de fora da minha loja de produtos esotéricos, arrumaria o pequeno espaço com uma toalha e um baralho, colocaria uma placa que diria “Leitura de Tarot por $7,77” e viveria do turismo místico da avenida.

Durante a semana, eu trabalharia dentro da loja que teria uma atmosfera preenchida por incenso, velas aromáticas e cristais pendurados que refletiam a luz que entrava pela janela. Na porta, um grande sino de ferro anunciaria a chegada de turistas frenéticos com suas câmeras com flash e seus sotaques de diferentes partes do mundo. Para eles, eu venderia tudo pelo dobro do preço, já que quem era do local sabia exatamente como e quando pedir por uma leitura de tarot. Eu vestiria roupas esvoaçantes e escuras e manteria uma postura misteriosa – gostaria que eles me vissem como um personagem na cidade e quando voltassem para seus hotéis pensassem: “Quem era aquela mulher atrás do balcão?”

Apesar da postura enigmática, tudo não passava de uma atuação. Eu na verdade seria muito animada e extrovertida nas horas vagas. No andar de cima da minha loja, eu alugaria um dos quartos para um musicista emergente de Jazz que veio de muito longe para tentar a vida de artista nas ruas francesas de Nova Orleans. Nós trocaríamos risadas e olhares, visitas para jantares inesperados e conversas sobre sonhos e o futuro e, talvez, por algum momento, eu pensasse em querer passar mais algum tempo na cidade só para viver algo com ele de fato – mas eu desistiria segundos depois.

Do outro lado da rua, um restaurante de uma velha amiga abrigaria o melhor da culinária Cajun, com pratos cheios de mariscos e pimenta. Ela me traria comida todos os dias apenas por apreciar nossa amizade e eu iria no restaurante todas as noites falar francês com os meus vizinhos, além de ouvir o músico, que morava no quarto ao lado, tocar para a grande massa de turistas. Eu viveria do básico, mas era por momentos como aquele, com pessoas como aquelas que tudo faria sentido. Eu não me preocuparia com a correria da cidade grande, com o tráfego ou com redes sociais. Essa era a magia de viver em uma cidade turística – para a maioria você era apenas uma miragem que eles olham por alguns segundos e seguem com suas próprias vidas, era viver pelo teatro e entretenimento dos feriados e festas culturais.

Mas esse é o fato: eu posso escolher ser uma cartomante latina com uma loja no French Quarter em Nova Orleans, uma mulher que ninguém conhece o passado, que chegou na cidade e ficou por apenas um ano. Esse sempre será o plano. Independentemente se eu tiver escolhido ser uma surfista nas praias de ondas gigantes da Austrália, ter uma loja de guarda-chuvas na cidade mais chuvosa da Europa na Noruega ou ser uma chefe de cozinha em alguma parte da riviera francesa. A qualquer momento, eu irei desaparecer por um ano para ser apenas a cartomante enigmática que mora em Nova Orleans, cobra o dobro para turistas e tem um romance com um músico de Jazz que mora no quarto ao lado de seu apartamento.

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