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Brexit: os rumos da saída

Negociado por mais de dois anos pela primeira-ministra, Theresa May, o acordo para a saída do Reino Unido da União Europeia foi rejeitado duas vezes pelo parlamento. O prazo para final para o Brexit, que seria o próximo dia 29, foi adiado na última semana pelo Conselho Europeu.

A contrapartida do bloco, aumenta para o dia 22 de maio, data anterior às eleições europeias, o limite para a saída, caso os britânicos aprovem o acordo fechado em novembro do ano passado até esta sexta-feira. Se não houver a aprovação, 12 de abril será o limite para a saída.

Para o professor do Departamento de Relações Internacionais da USP, Kai Enno Lehmann, qualquer cenário que envolva a falta de acordo seria catastrófico para o Reino Unido. “O impacto negativo (do “no deal”) no Reino Unido vai ser imediato, porque não há uma preparação adequada. A grande maioria das bases jurídicas, através das quais o RU faz o seu comércio com o resto do mundo, não vão se aplicar mais”, explica.

O sentimento de indefinição pela iminente saída sem acordo do Reino Unido da União Europeia agravou ainda mais a crise política e levou milhares de pessoas às ruas de Londres para reivindicar um novo referendo. A mobilização é mais um capítulo que exemplifica quão rachada está a sociedade britânica.

Se um plebiscito levou o Reino Unido à essa situação, para Lehmann, não será outra consulta popular que resolverá os problemas. “Primeiro: sou contra a legalização de plebiscitos para assuntos tão complexos. Plebiscitos, por definição, têm que reduzir assuntos complexos em ‘sim’ ou ‘não’. Uma coisa é dizer ‘eu quero sair da UE’, outra é refletir sobre o que isso significa na prática. Segundo: caso haja um novo plebiscito e o resultado seja favorável à permanência, o que faríamos depois? Um terceiro plebiscito para desempatar?”, avalia o professor.

Apesar da urgência, a posição do parlamento não parece ter mudado. Theresa May, inclusive, criticou os integrantes do legislativo. “Até aqui, o parlamento fez o que pôde para evitar ter de escolher”, disse.

Um dos pontos mais criticados pelos deputados é o chamado “backstop” na Irlanda, garantia por meio da qual a UE exige que haja uma união aduaneira entre as partes. Opositores ao mecanismo afirmam que é uma forma do bloco econômico manter o Reino Unido como refém.

Desde a criação da União Europeia, nenhum membro havia deixado o bloco. Após a vitória do “leave”, em 2016, a candidata derrota à Presidência da França, Marine Le Pen, disse ser favorável à promoção de uma votação em cada país membro para saber se havia interesse na continuidade da UE.

O estímulo que a atitude britânica poderia provocar em outras nações europeias, segundo o professor Lehmann, não aconteceu, devido à grande incompetência que o Reino Unido tem mostrado na condução do Brexit. “A saída de um país de um regime comercial e político, construído ao longo de 40 anos, é tão complexa, que os problemas que o RU está enfrentando vão garantir, pelo menos por enquanto, que nenhum outro país tente a saída do bloco”, concluiu.

Foto: Peter Nicholls/Reuters