Cara a Cara: Eliane Scardovelli

Mãe, dançarina e repórter, como diz em sua biografia nas redes sociais, Eliane é uma jornalista entusiasta em conhecer e contar novas histórias

Em 2009, a repórter Eliane Scardovelli graduou-se em jornalismo na Universidade de São Paulo. Ela passou pela revista Carta Capital como estagiária, depois trabalhou como redatora no grupo Abril e desde 2010 é uma das integrantes do programa Profissão Repórter na Rede Globo. Já fez inúmeras reportagens, entre elas, uma trilogia sobre assuntos relacionados à maternidade. Além disso, Eliane participou da escrita dos roteiros do documentário “Cercados”, que relata o papel da imprensa contra o negacionismo durante a pandemia, e da série “Marielle” sobre a ex-vereadora do Rio de Janeiro. O Portal Whiz entrevistou a repórter para conhecer mais sobre sua história:

WHIZ: Como surgiu a ideia, como foi o processo para a produção do roteiro e o desenvolvimento do documentário “Cercados”?

Eliane: O projeto surgiu de um diálogo entre o jornalismo da Globo e o Globoplay. Era premente a necessidade de se falar sobre esse período tão peculiar da nossa história, e acabamos optando por fazê-lo por meio do olhar dos jornalistas. Esse foi um desafio particularmente difícil porque se trata de uma história em andamento, mas não queríamos perder o timing de toda a discussão e, principalmente, precisávamos reforçar o alerta de que a pandemia ainda não acabou. Disparamos simultaneamente equipes por seis cidades do Brasil. Tínhamos uma quantidade imensa de material bruto, mas acabamos optando por incluir no roteiro histórias mais intensas, que dessem conta das principais dificuldades enfrentadas pelos repórteres durante a cobertura, e, consequentemente, dos dramas dos que foram por eles retratados.

WHIZ: Durante sua carreira você já lidou com muitas histórias emocionantes. Mas, tem alguma em especial te marcou nesses anos?

Eliane: Em 2014 fui até Cuiabá fazer uma reportagem sobre falta de leitos de UTI para crianças. Na ocasião, acabei conseguindo entrar em um hospital municipal que contava apenas com salas de cuidados intermediários. Lá encontrei uma criança de um ano, Hyann. O menino estava com um problema grave no coração e precisava ser transferido imediatamente. Os pais dele estavam desesperados. Nesse momento, ativei todos os contatos que tinha feito durante a produção anterior à viagem, na tentativa de ajudá-los. O secretário municipal descobriu que eu estava lá, e a assessoria ficou doida atrás de mim, dizendo que ele queria me dar entrevista, mas que para isso eu tinha que deixar a sala. Bati o pé. Nunca iria abandonar aquela história, e tinha quase certeza de que, se eu saísse de lá, não conseguiria mais voltar. O secretário acabou indo ao meu encontro e ali, ao lado do menino, confessou que aquilo tudo era uma bomba-relógio prestes a explodir. A pressão acabou sendo positiva. O pequeno Hyann foi transferido para um hospital particular da cidade que atendia pelo SUS, cujo dono – adivinhem – era o próprio secretário. Voltei para o hotel aliviada e esperançosa, mas naquela noite recebi uma ligação. A transferência foi tarde demais. Hyann morreu.

WHIZ: Ainda sobre isso, como cuida da sua saúde mental ouvindo tantas histórias?

Eliane: Medito, faço yoga, terapia e desabafo com amigos e familiares.

WHIZ: Você sonhava em ser jornalista? E o que te levou a escolher a reportagem?

Eliane: Nunca foi um sonho da infância ou adolescência ser jornalista. Gostava muito de ler, escrever, curtia história e geografia. Depois que me formei no Ensino Médio, prestei vestibular para Relações Internacionais. Acabei não passando, e foi no ano de cursinho que me decidi pelo jornalismo. Meu primeiro estágio foi em uma assessoria de imprensa, mas sempre gostei mais de reportagem. Em todos os meus estágios tive algumas oportunidades de sair para contar histórias e fui pegando o gosto. Quando entrei no estágio da TV Globo, passei por diversas redações, dentre elas a do Profissão Repórter. Numa reunião de feedback com o RH, comentei despretensiosamente que o Profissão tinha sido o meu lugar preferido. Um mês depois, tive a felicidade de ser convidada para integrar a equipe do programa.

WHIZ: Escrever roteiros sempre esteve nos planos?

Eliane: Desde que entrei na TV, passei a gostar bastante de edição. No Profissão Repórter, todos nós, repórteres, produzimos, gravamos e editamos, então na prática faço roteiros há muito tempo. Em 2014, decidi fazer um curso de documentário, e mais uma porta se abriu para mim. Como trabalho de conclusão, fiz com meus colegas o documentário curta-metragem “Muro”, que foi finalista de Gramado e da Mostra Encontros de Cinema de Viana do Castelo, em Portugal. No ano passado, fui convidada para integrar a equipe que fez a série “Marielle, o Documentário” e, na sequência, surgiu a oportunidade de assinar, com o diretor Caio Cavechini, o roteiro de mais uma produção, “Cercados”. Além disso, neste ano, fiz mais um curta-metragem independente, “A Vida que eu Sonhava Ter”. Em breve devo divulgá-lo.

WHIZ: Nos anos trabalhando no Profissão Repórter, quais foram as suas evoluções, pessoais e profissionais, que mais se destacaram?

Eliane: Meu principal ganho foi ter conhecido muita gente, muitos lugares, o que ampliou minha visão de mundo tremendamente. Além de tantas histórias sobre assuntos tão diversos, o convívio com a equipe é sempre um grande presente. Nossa troca é muito rica e sinto que estou sempre aprendendo. Caco é uma grande inspiração. A cada pauta, ele se renova, vê toda oportunidade com muita energia e generosidade. Essa é a grande maravilha de ser repórter: cada história é um universo novo, e nenhuma é igual à outra.

WHIZ: Qual reportagem você mais se orgulha de ter feito?

Eliane: Me orgulho de todas as reportagens que fiz, mas destaco aqui uma trilogia de programas que sugeri, todos ligados a questões da maternidade: depressão pós-parto, violência obstétrica e mães no mercado de trabalho.

WHIZ: E por último, qual meta profissional você ainda quer conquistar?

Eliane: Desejo continuar a fazer reportagens, mas pretendo também me desenvolver cada vez mais como documentarista.

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