Ensaios memoráveis de Joan Didion

Joan Didion é uma das vozes originárias do que se chamou Novo Jornalismo, no início dos anos 1960. Durante o período que revolucionou a maneira de escrever para a imprensa, por meio de técnicas literárias em um gênero de não-ficção, a escritora norte-americana — hoje aos 86 anos — se estabeleceu como um expoente da união passional entre ensaios jornalísticos e memórias literárias.

Através de uma voz absolutamente única, suas obras caminham entre aspectos da contracultura das décadas de 1960 e 1970, os movimentos dos direitos civis, a guerra do Vietnã, o impeachment de Nixon e a guerra civil em El Salvador. Além de retratos de sua infância e lembranças angustiantes do passado, em registros de natureza extraordinariamente introspectiva.

O Ano do Pensamento Mágico (2005)

No livro ganhador da categoria de não-ficção do National Book Award, Joan Didion explora uma intensa e dolorosa experiência pessoal, e ao mesmo tempo, universal. A jornalista narra o período de um ano que se seguiu à morte de seu marido, o também escritor John Gregory Dunne e a doença de sua única filha, Quintana. “O Ano do Pensamento Mágico” revela o retrato de um casamento e uma vida em uma narrativa densa, sobre as marcas irreparáveis deixadas pela perda. Ao longo de um pouco mais de duzentas páginas, ainda encontramos algo faltando nas entrelinhas, algo que jamais será preenchido novamente.

“Nós não somos criaturas selvagens idealizadas. Somos seres mortais e imperfeitos conscientes da mortalidade, apesar de ficarmos empurrando-a adiante. Quando choramos nossas perdas, ficamos tão transtornados, que a gente chora, para o bem ou para o mal, também por nós mesmos. Pelo que nós éramos. Pelo que não somos mais. Pelo que um dia não seremos de modo algum.” — O Ano do Pensamento Mágico

Noites Azuis (2011)

Ambientado em 26 de julho de 2010, “Noites Azuis” se inicia com uma lembrança de Joan naquele mesmo dia, sete anos antes, quando sua filha Quintana Roo se casava em Nova York. Os jasmins em seu cabelo, sua tatuagem transparecendo sob o tule e os colares havaianos são detalhes que a transportaram para memórias vivas da infância da jovem em Malibu. Entre lembranças emocionantes e uma viagem extremamente honesta sobre a perda de sua filha, a autora analisa seus próprios medos e angústias sobre seu papel como mãe, até mesmo na comparação de sua vida com as noites azuis, longas noites que surgem logo após o solstício de verão nos Estados Unidos.

“Noites azuis são o oposto do declínio da claridade, mas também seu aviso.” — Noites Azuis

O Álbum Branco (1979)

Nesta coleção de ensaios que examina grandes eventos, personalidades, tendências e movimentos de uma era, através das lentes de sua própria ebulição cultural, Joan Didion ajuda a definir a cultura de massa como a conhecemos hoje. Desde as jornadas obscuras da família Manson, ao surgimento dos shoppings e a fundação dos Panteras Negras, o livro reflete o cotidiano e o absurdo americano em uma linguagem precisa que surpreende mesmo após décadas da publicação original do romance.

“Contamos histórias a nós mesmos para poder viver.” — O Álbum Branco

Play It as It Lays (1970)

Em uma prosa muito visual e típica da autora, o romance introduz o monólogo interno de Maria Wyeth, uma aspirante a atriz de Hollywood no início de seus 30 anos. Em cenas impressionantes de Nevada a Los Angeles, a narrativa explora aspectos autodestrutivos na vida da protagonista, após términos de relacionamentos, utilização de medicamentos e a vivência narcisista nos palcos. Com o conhecimento íntimo de Joan com Hollywood, observamos a análise do vazio cultural da indústria.

“Houve silêncio. Algo real estava acontecendo: esta era, por assim dizer, a vida dela. Se ela pudesse ter isso em mente, ela seria capaz de reproduzi-lo, fazer a coisa certa, o que quer que isso significasse.” — Play It as It Lays

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