Adolescente segurando seu filho, fruto de casamento infantil em Namutumba, Uganda.

Leblouh: a prática africana que leva a obesidade

Prática alimentar tem como objetivo deixar as mulheres obesas para que se encaixem no padrão de beleza da região

Não é novidade que no ocidente e na maior parte do oriente o padrão de beleza é o corpo magro, e vem sendo assim ao longo de muitos e muitos anos. Todavia, há países onde o corpo gordo é o mais admirado, como na Mauritânia, Níger, Uganda, Sudão e Kenya. ‘’Reside na construção desse ideal uma particularidade, um objetivo. No caso, é o casamento’’, explica a historiadora africanista Dra. Karina Ramos (34).

Na cultura dessas regiões, quanto maior a mulher, maior a sua chance de se casar e, nesse contexto, deve-se saber que o casamento é, literalmente, um fator essencial na vida das mulheres. ‘’Ser farto, em diferentes sentidos, é um aspecto valorizado em diferentes culturas africanas. Nelas, o corpo gordo é evidência física de riqueza, de fartura’’, complementa a historiadora.

Dra. Karina cozinhando ao lado do livro ”Poderosas Rainhas Africanas”, de Mariana Bracks Fonseca.

Nas áreas urbanas desses países, o Leblouh é muito menos praticado, justamente por conta do maior acesso à informação e oportunidades de emprego que oferecem. ‘’A prática é mais presente em áreas rurais em função da situação de precariedade que essas comunidades sofrem comparadas aos centros urbanos’’, diz a Dra.

Na África, o casamento infantil é muito comum, como por exemplo em Níger, em que a média de idade em que meninas se casam é de 15 anos. Por conta da pobreza que abrange esses países, as mães tendem por casar suas filhas o mais novas possível e com o homem mais endinheirado que encontrarem, para assim tentarem melhorar suas condições de vida. Dessa forma, nos países em que o Leblouh é praticado, a mulher passa a ingerir entre 10,000 a 16,000 calorias por dia desde os cinco anos de idade, o que leva a consequências negativas.

Adolescente segurando seu filho, fruto de casamento infantil em Namutumba, Uganda. 

Segundo a nutricionista Bruna Lemos (24), que atualmente faz especialização em Nutrição Materno Infantil pela USP, a média ideal de calorias a serem ingeridas por uma criança de 5 a 10 anos é entre 1.600 a 2.000. ‘’As principais consequências da obesidade infantil são doenças cardiovasculares como pressão alta, risco de diabetes do tipo 2 e colesterol alto’’, explica Bruna.

Não é fácil atingir tal número de calorias, especialmente em um contexto tão empobrecido. ‘’As garotas bebem quantidades enormes de leite e comem comidas gordurosas e calóricas, como cuscuz e painço”, menciona Chelsea Thompson em seu artigo para a Utah Historical Review, o jornal de história da Universidade de Utah, nos Estados Unidos. Além disso, a ingestão de pílulas esteróides para o ganho de peso é também um método usado por essas mulheres. Os pais com maior poder aquisitivo também mandam suas filhas para ‘’centros de treinamento’’ intensivos para que alcancem o resultado com maior rapidez.

A partir do início do século 21, o governo da Mauritânia passou a incentivar figuras mais magras e alertar sobre as consequências do sobrepeso. Em 2003, houve uma grande campanha em apoio ao emagrecimento em Nuaquexote, capital do país, que contou com homens e mulheres relatando sobre as dificuldades que tem passado devido à obesidade. Por conta da mobilização, o Leblouh é atualmente mal visto nos espaços urbanos do país, mas continua sendo praticado nos locais rurais e com menos acesso à informação.

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