Muito mais que um jogo

Foto: Shaun Best/Reuters e Reprodução
Montagem: Pedro Trevisan

Conheça as partidas em que as questões sociais e políticas gritaram mais alto do que a torcida

Faltam cinco semanas para a Copa do Mundo 2018 e já estamos ansiosos pelo primeiro “É goooooool!!! “(do nosso país, claro). No entanto, às vezes a Copa transforma-se em muito mais do que gritos, buzinas e vuvuzelas. Ideologias, preconceitos e rivalidades escondidas encontram palco no maior espetáculo futebolístico do mundo e mancham o pretenso clima de unidade esportiva. Confira abaixo algumas ocasiões em que questões externas infiltraram-se no evento e transformaram os jogos em uma extensão dos debates mundiais.

  1. Copa de 1934 – Áustria x Hungria

Pra quem não sabe, a Áustria e a Hungria já foram um único país. Aliás, mais do que isso: eram um único Império. A Primeira Guerra Mundial abalou o já fragilizado equilíbrio entre as diferentes etnias que o compunham e, em 1918, houve a separação definitiva. O jogo entre os países, logo na segunda edição da Copa, carregava resquícios da antiga rivalidade e foi marcada por extrema violência.

  1. Copa de 1938 – Itália x França

Se o jogo da Áustria e a Hungria carregava as marcas do passado, o da Itália contra a França anunciava problemas futuros. Às vésperas da Segunda Guerra Mundial, a Copa de 38 foi especialmente tumultuada. Para evitar o clima de propaganda política que permeara a edição anterior da Copa, na Itália, a Fifa escolheu a França como país-sede e não a Alemanha nazista (para a frustração de Hitler). Porém, a política deu um jeito de entrar na partida. No jogo em questão, os jogadores italianos vestiram-se totalmente de preto em homenagem ao regime fascista de Benito Mussolini.

  1. Copa de 1954 – Alemanha x Hungria

A princípio este jogo não parece ser nada além de uma boa partida. A Hungria era cotada para ser a campeã do torneio. Era um time imbatível. Não perdera nenhum dos jogos que disputou até a final, em que perdeu para a Alemanha, campeã daquele ano. Dois anos depois, a URSS invadiu sua capital, Budapeste. O time, que estava no exterior, dissolveu-se. Muitos dos jogadores nem voltaram para o país e o time de ouro da Hungria perdeu-se entre as cinzas da Guerra Fria.

  1. Copa de 1974 – Alemanha x Alemanha Oriental

Quem não se lembra do maior símbolo da Guerra Fria, o Muro de Berlim? A Alemanha dividida tornara-se o outdoor do Mundo Bipolar onde o capitalismo tentava provar-se melhor que o socialismo e vice-versa. Imagine, então, um jogo entre a Alemanha Ocidental e a Alemanha Oriental. E ainda por cima, na própria Alemanha Ocidental. Ironicamente, a vencedora da partida foi sua oponente socialista, o que colocou o time da casa em maus lençóis com seus torcedores.

  1. Copa de 1982 – Polônia x URSS

Imagine o jogo de um empregado contra um chefe violento. Essa era a situação da Polônia contra a URSS, a líder do bloco socialista. O medo de uma represália política, caso batesse sua chefe no futebol, tornou o jogo polonês inexpressivo. Para complicar, alguns torcedores poloneses não captaram a intenção de evitar problemas e levantaram uma faixa escrita “Solidarnosc” – que significa solidariedade – no meio do jogo, em referência ao primeiro sindicato criado em um país do bloco socialista.

  1. Copa de 1998 – EUA x Irã

Diferente dos outros exemplos, este jogo em particular conseguiu passar uma mensagem positiva. As tensões entre os EUA e o Irã provinham de vários acontecimentos, desde a invasão iraniana à embaixada estadunidense, em Teerã, ao fato do governo norte-americano ter apoiado  o Iraque na guerra contra o país, alguns anos antes. Contrariando a tensão, os iranianos ofereceram flores aos adversários no campo e trocaram presentes num gesto de paz. Apesar disso, alguns torcedores iranianos nas arquibancadas entraram em confronto com os seguranças; eles pertenciam a um movimento de exilados chamado “Majahedin”.

Com a Copa chegando, os olhos se voltam para a Rússia e algumas polêmicas já tomam forma no horizonte. A Fifa já anunciou que será mais severa com casos de racismo e discriminação. Então prepare as bandeiras e também os olhos para ver o futebol e o mundo na Copa 2018.

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