O ~contrário de isolamento~ musical

Música. Uma forma de expressão e também de descontração, é uma arte importante na vida de muitos. Com a possibilidade de criar conexões, transmitir emoções, despertar sentimentos, marcar vidas e deixar algo registrado na história, a música revela seu poder. Este que tem sido essencial e até se intensificado no período de quarentena.

Muitas vezes sozinhos ou tendo contato apenas com as poucas pessoas que moram na mesma casa, o período de medos e incertezas se complica mais com o distanciamento humano, e é aí que essa arte entra. Com o poder de uma máquina do tempo, a música pode nos fazer revisitar lugares e momentos, nos lembrar de pessoas e sensações que nos esquecemos com a nova rotina. O que se torna extremamente relevante para o momento atual, para a saúde mental do povo.

Renan Inquérito fotografado por Juliano Simões

Mais do que trazer boas sensações, a música pode ser uma válvula de escape em momentos sombrios e de ansiedade. Com a capacidade de acordar o interior de cada um, na crise que enfrentamos, ela atinge aos músicos, àqueles que não vivem sem música e até os que não são tão ligados a ela. “A relação com a música com certeza se fortaleceu na quarentena, porque mais do que nunca ela virou uma companheira, serviu como parceira e até como terapia. A conexão foi tão mais intensa que quando reparei tinha músicas suficientes para lançar um disco”, afirma Renan Inquérito, 36 anos, rapper, poeta e educador.

Funcionando também como a trilha sonora de nossas vidas, a música é memória, que muitas vezes está relacionada à outras pessoas. Relações interpessoais essas, que estão impedidas no cenário atual, constituindo o que pode ser um grande desafio nesse momento. “O maior desafio musical enfrentado nessa pandemia é não poder se encontrar com as pessoas, porque a música é uma arte coletiva. Por mais que ela comece no particular de alguém, uma hora esse alguém vai ter que ir pro estúdio, compartilhar com outros para aprimorar o som, cada um ir somando com uma coisinha pra transformar aquele seu esqueleto de música em algo completo”, revela o músico.

Mais do que na criação, a música é coletiva em seu momento de entrega. Por mais que existam redes sociais, plataformas de streaming e outras maneiras de veicular música nesse cenário de pandemia, o modo de entrega não é tão verdadeiro quanto presencialmente. “É ali no show, na apresentação, que rola a melhor experiência, porque um feedback de algo por comentário no direct é muito frio. Agora o feedback de uma palma, de um grito, de um coro cantando junto e de gente pulando na sua frente é surreal, é compartilhar calor humano e emoção com a rapaziada, o que é uma grande perda por agora”, relata Inquérito.

Com toda essa saudade por parte dos artistas e do público, a espera e ansiedade por esse encontro é o que motiva muitos, que tem despertado tudo o que a música é capaz de transmitir. Além de ser uma saudade que permitiu novas descobertas e inspirações com um gostinho de quero mais. “Eu espero que o retorno ao normal seja bem cheio de vontade, de amor, de aprendizado e de saudade, que o público esteja sedento, que os artistas estejam dispostos e que tenham material para que seja um encontro bem vigoroso mesmo”, destaca o rapper e educador.

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