Mardi Gras or Rio Carnival mask and colorful carnival decorations. Scene includes: gold feathered mask, colored party lights, and beads. Objects lie on wooden table. No people.

Quem decide o ritmo do Carnaval?

O Carnaval 2020 em Serra Negra mostrou que o funk não é unânime entre os brasileiros

Já se tornaram tradição os conhecidos bloquinhos de rua, que durante quase todo o mês de fevereiro, animam a população com muita música. Só na capital paulista, a festa contou com aproximadamente 14 milhões de participantes, em 2019, tornando o Carnaval da cidade o maior do país, em número de pessoas. Com toda a mistura de classes, raças e estilos, a festa em São Paulo deixou de ser apenas o samba da avenida e abraçou outros estilos musicais.

Um dos gêneros em destaque durante a folia paulistana é o funk, que ainda hoje divide opiniões. Este ano, a cidade de Serra Negra, localizada a cerca de 140 km da capital, teve o funk vetado nos blocos de rua, pela Secretaria de Turismo. “Nas redes sociais, muitas pessoas se manifestaram a favor da proibição, enfatizando que o caráter do Carnaval deveria ser voltado para a família. Já na rua, a busca pelo funk era nitidamente visível”, comenta Anna Beatriz, estudante de direito e moradora de Serra Negra.

O exemplo da cidade relembra a retomada do Carnaval de rua em São Paulo, que aconteceu nos anos 2000. Os primeiros blocos, como o Acadêmicos do Baixo Augusta, na capital, surgiram entre a falta de estrutura e confrontos com as autoridades, que não permitiam esse tipo de manifestação. “O próprio público conseguiu achar uma alternativa para aproveitar o som das músicas que queriam ouvir [com caixas de som na rua]. Ou seja, de um lado, existia uma grande procura do público pelo funk, e do outro, também é marcante a presença de um olhar mais tradicional, que não aprova o gênero ser tocado no nosso Carnaval”, diz a moradora.

Segundo a Secretaria de Turismo da cidade, a medida teve como objetivo diminuir a violência durantes as festas e proporcionar um evento voltado para a família. “De qualquer forma, me parece que a prefeitura se empenhou, como pôde, na busca pelo controle da violência no local, pois os ambientes estavam extremamente agradáveis e pacíficos. Contudo, acredito que seja forçoso dizer que não houve violência em virtude única e exclusivamente da escolha das músicas a serem tocadas”, esclarece Anna Beatriz. 

Para que possam ocupar espaços públicos, os blocos precisam entrar em acordo com a prefeitura e seguir as regras estipuladas em um edital exposto pela mesma. Nesse acordo devem ser incluídas as músicas que serão apresentadas, com o repertório passando por uma avaliação, assim como o trajeto a ser cumprido e os horários estipulados.

“Minha preocupação é esta: ao se proibir o funk, talvez estejamos dando margem para ofensas sutis à liberdade de expressão. Isso porque, sendo um estilo musical, o funk é uma forma de expressão. E como toda forma de expressão, deve a ele ser assegurada liberdade para sua manifestação”, conclui. Mesmo com a polarização de pontos de vista, seja nos blocos ou nas caixas de som, o estilo já se tornou parte do Carnaval.