O ninho que faz falta

Foto: Clara Valdiviezo

Sabe aquela sensação de independência que você sentiu no dia que seus pais se despediram de você? Eles te deixaram na nova casa, para uma nova vida, independente, livre e cheia de saudades. Você se permitiu viver a experiência de se separar deles, fazer uma faculdade longe de casa, construir seu caminho sozinho.

Naquele momento o sentimento de “agora eu posso, agora eu consigo me virar” toma espaço e cresce em seu peito, até o momento em que você percebe: não, você não consegue. Quantas vezes você liga desesperada pra seus pais? “Como eu lavo aquela blusa?” “A panela tá preta…” “Por que meu feijão está ralo?”. Quantas vezes você não ligou e acabou pedindo fast food porque você e o fogão não se dão bem? Por quantas noites você dormiu com o quarto virado, a louça na pia, a sala de pernas pro ar? Por quantas noites você dormiu com a vontade de um beijo de boa noite?

Eles fazem falta na hora que não sabemos fazer os deveres de casa, eles fazem falta na hora de brigar por causa da bagunça, e acima de tudo, o carinho deles é o que mais faz falta.

Sair do ninho e voar é a sensação mais maravilhosa que existe. Só que ao mesmo tempo é a mais difícil. Você se vê correndo atrás dos seus sonhos e deixando aqueles que te amam pra trás. Deixando corações apertados, mas felizes por te verem crescer. Eles te criaram pra isso, para o momento em que você não precisaria mais deles. Grande ilusão.

Não existe nada mais reconfortante do que escutar a voz deles quando você não sabe o que fazer, ouvir aquele conselho que você, muitas vezes, nem teve que pedir, eles já sabiam o que dizer. Eles podem se sentir deixados de lado, mas a grande verdade é que eles serão nossa eterna estrutura, nossa base quando o mundo parece estar desabando. Não, pais, vocês não são dispensáveis, vocês são mais que essenciais, são aquilo que não nos deixa abaixar a cabeça, que nos faz olhar pra frente e continuar lutando apesar de todos os perrengues que nos metemos.

Ainda bem que saudade nos acompanha diariamente, ela é a prova de todos os bons sentimentos e bons momentos que foram divididos, é a prova que a falta de vocês nos dói simplesmente porque os amamos.

Viver nossas vidas sem eles todos os dias é um aprendizado que devemos passar. O fato de amarmos morar sozinhos e vivermos nossas vidas não significa que não temos saudade dos dias que o café da manhã estava pronto, esperando com um abraço que dava energia para o dia todo. A saudade está aqui, mas ela não significa que queiramos voltar pro ninho, significa que o ninho está no passado e tem cheirinho de conforto, que está na hora de nós construirmos nosso próprio ninho, mas não que vocês não devam participar dessa construção, que vocês são, mais uma vez, a base para que o novo ninho também tenha cheirinho de conforto.

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