Revertério Paulistano

Foto: Clara Valdiviezo

Poxa São Paulo, não da pra te defender amiga. Quando a gente acha que está se acostumando, lá vem mais uma! Moro nesta santa cidade há mais ou menos um ano, e quando acho que já posso me dizer uma paulistana nata: você me aparece com mais uma das suas convenções sociais, não escritas em lugar algum, completamente sem sentido pra fazer um ser humano se sentir um asno em meio à multidão.

Eu só queria comprar uma passagem de ônibus no terminal Barra Funda ao meio dia, isso é pedir demais? Estava andando no meio do povo e realmente acreditei que nunca na vida eu conseguiria chegar ao guichê, tinha uns par de gente andando em direção contraria, uns par com força. Todos me olhavam com desgosto mortal; minha consciência já tinha aceitado, eu tinha matado alguém, com certeza. Tentei avançar, mas aqueles olhares só me levavam mais pra trás, até que percebi o problema: eu estava do lado esquerdo. Poxa São Paulo, pedestre tem linha de tráfego agora? Oxi! Sim, foi só ir pro lado direito que encontrei meus companheiros de direção (que fingiram demência pra minha presença, por sinal). Onde está escrito que não posso andar azesquerda? Não está, mas me parece que eu deveria saber.

Como você espera que uma mera camponesa como eu saiba que ao subir a escada rolante eu não (repito, NÃO!) devo parar do lado esquerdo? Como você espera que eu, que nunca tinha andado de metro na vida, consiga manter o equilíbrio enquanto parece que estou dentro de uma batedeira ambulante? Eu não tive a mesma educação que você paulistano, eu não tive um pai que me dissesse “filha, finja que está em uma prancha de surfe”. Essa cena realmente aconteceu. Estava eu no metro, linha vermelha, estação Santa Cecília, lutando para não tomar um capote enquanto ao meu lado havia um homem, lá pelos seus 40 anos, com os braços abertos e pernas arreganhadas ensinando a seu filho como se manter em pé naquela jeringonça que vocês chamam de transporte público. “Uai pai, onde você estava quando eu tinha 5 anos?” “Te ensinando como andar a cavalo” “Ah”.

Vocês paulistanos realmente acham que nós, seres campestres, sabemos que não se pode dar bom dia a seus próprios vizinhos na entrada do prédio? Ou ao moço da padaria (que na cidade grande não sabe nem seu nome e nem o seu “de sempre”), ou à tia da cantina, ou à pessoa que está a meu lado no ônibus. Que que é o fim disso São Paulo? Custa responder ao meu bom dia? Vocês não têm educação não? Bom, parece que não.

Além de tudo vocês não têm coração, a bolha é muito grande pra ser quebrada. Nunca pensei que fosse me sentir sozinha em um mundarel de gente. Aquela tal de Paulista às 18h vira um rebosteio que só, nunca estive tão perdida, gente andando rápido, pessoas com frio, com fome, com sede, sem teto e ninguém nem ai pra paçoca. O celular e o chão são mais importantes parece. Se alguém esbarrar em você, não se dê o trabalho de esperar uma desculpa, esse ai nem te viu, mas cheque os bolsos pode ser que ele tenha sim te visto, visto até demais.

Poxa São Paulo, você me complica a vida! E esse trem de chamar sinaleiro de semáforo? De chamar japona de jaqueta? Deusolivre!

Não da pra entender, eu tento, pior que eu tento, mas meu erre não consegue sair engomadinho como o de vocês. É poRta, poRteira. E esse gemido que vocês dão pra falar Ãna? Para com isso, é Ana meu Deus.

A gente encontra os falsos paulistanos nesses detalhes, o cara que caiu no colo da velinha no ônibus não nasceu aqui. A moça que anda olhando para os lados em choque, essa não tem 3 meses de São Paulo. O que força o sotaque e fala “mêêêu, cê num sabe, mêêêu” acha que ninguém está percebendo que vem de mais longe que todos nós.

Mano do céu, tá pra nascer mais peculiar que você São Paulo. Haja paciência.

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