O que os olhos veem o coração idealiza

A influência das representações românticas na visão de realidade de cada um

 

Despertando a representação amorosa, os mitos gregos, como o de Perséfone que esperava o ano inteiro para estar com seu marido Hades na virada das estações, mostram o amor de forma específica. Da mesma forma, o amor é representado de maneira singular, como em Friends por meio da relação conturbada entre Ross e Rachel, ou em How I Met Your Mother em que o enredo é completamente baseado no romance entre duas pessoas. Necessário para a felicidade e duradouro até os cabelos grisalhos, é assim que é retratado esse sentimento que, apesar de tão presente, ainda é misterioso e desconhecido.

Ted e a ”mãe” de How I Met Your Mother

Sobre o ponto de vista cinematográfico, o professor Marcelo Lyra, do Museu da Imagem e do Som e no Espaço Itaú de Cinema de São Paulo, conta que a história da mocinha e do bandido nasce com o surgimento dessa forma de arte. ‘’Tudo isso surge junto com o cinema, pois este herda imediatamente os modelos clássicos da literatura e do teatro. Ele afeta o conceito de amor idealizado porque atinge milhões de pessoas em todo o mundo e transmite modelos de comportamento. E é um modelo muito básico, porque no cinema popular, os filmes de grande bilheteria, é preciso atender os anseios do público’’, diz Marcelo.  

 

Já o psicólogo Felipe Loberto Silva, com pós-graduação em Psicanálise e Saúde Pública pelo Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital Albert Einstein e cursando pós-graduação em Fundamentos da Cultura e das Artes (UNESP), cita a frase do escritor e dramaturgo francês, Jean Commerson:  ‘’A realidade é funeral das ilusões’’. Para o psicólogo, existe uma responsabilidade da grande mídia no que é idealizado pelas pessoas: ‘’Por conta do alcance da mídia, as pessoas não ficam imunes a essas representações. Elas podem tomá-las como certas, adequadas ou desejadas. Ou podem se opor e escolher viver uma experiência ou idealizar algo totalmente diferente do que é exposto. No mundo em que a gente vive as pessoas não conseguem ser indiferentes a essas representações’’, avalia Felipe.

 

Ainda segundo Felipe, a maior consequência de padrões midiáticos é a decepção, pois no momento em que houver o conflito entre a realidade e o sonho a pessoa terá que colocar em cheque tudo que imaginou. Porém, ele menciona que não podemos caracterizar as consequências como boas ou ruins, pois tudo depende do que o sujeito, quando confrontado por sua idealização, faz com esse aprendizado.

 

Obras mais recentes têm, de certa forma, quebrado as expectativas clássicas de finais felizes e mostrado momentos de altos e baixos dentro de relacionamentos. O premiado La La Land  quebrou muitos corações com seu final e a série Easy da Netflix desde 2016 mostra de maneira madura como relacionamentos começam e se desenvolvem com o passar dos anos.

Mia e Sebastian, protagonistas do filme La La Land

 

De acordo com Felipe, esse fenômeno pode ser observado pelo ponto de vista de que a arte sempre parte ou da conformidade ou da oposição a padrões culturais de suas épocas. Por esse motivo, podemos enxergar mudanças na representação romântica em algumas obras. ‘’Os próprios costumes e hábitos mudam e, com isso, as produções os acompanham’’, analisa.