Outras formas de “ler” o mundo

Com cópias de seus livros em mais de 37 países, Rick Riordan é exemplo de representatividade

O pré-conceito na literatura vem desde o começo da escrita. Mulheres e pretos eram proibidos de praticar essa arte, indígenas foram obrigados a adotarem a escritura européia, histórias asiáticas foram menosprezadas. No entanto, com a sociedade contemporânea, muitos desses tabus estão sendo quebrados. Rick Riordan possui mais de 100 milhões de livros vendidos, com os direitos autorais de “Percy Jackson e os Olimpianos” vendidos para a Disney+ e as “Crônicas de Kane” para a Netflix e é, hoje em dia, um dos maiores representantes da literatura moderna.

O autor tem 56 anos, 2 filhos e mais de 20 livros publicados. Começou a escrever mistérios para adultos e, hoje, é considerado um dos maiores influenciadores entre os jovens adolescentes. De 8 à 80, o popularmente conhecido como Tio Rick aborda todos os tipos de culturas e diferenças, sejam elas religiosas ou étnicas. “Todo mundo quer se sentir representado. É uma sensação maravilhosa poder se identificar com um personagem em um livro ou filme. Infelizmente, por muito tempo só um grupo seleto (branco, cis, hétero) assumia o papel de protagonista dessas narrativas”, comenta Cristiano Rantin, da Legião dos Heróis.

Riordan lecionou Inglês por mais de 15 anos e sempre foi apaixonado por literatura. Quando seu filho foi diagnosticado com TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade), Rick usou a criatividade para criar uma história para ajudar seu aprendizado. Foi aí que “Percy Jackson e o Ladrão de Raios” surgiu. “Ele sentiu falta de livros que tivessem esse tipo de representatividade, foi lá e escreveu. Os jovens estão se sentindo mais acolhidos agora, com personagens que apesar de serem SEMIDEUSES, são mais HUMANOS que muita gente por aí”, conta Alan Silva, escritor de “O (Ex) Atual do Meu Ex”.

O escritor e fã Alan Silva tem 28 livros publicados e é um dos representantes do orgulho bi. Ele conta que “foi somente com essa representatividade do Rick Riordan que comecei a olhar mais para nossa cultura e comecei a sentir vontade de também representá-la. Por isso escrevi ‘Vera Cruz e o Espelho Sagrado’, que nasceu como uma fanfic de Percy Jackson com elementos brasileiros.”

“Mais do que apenas uma série fantástica com mitologia moderna, temos discussões relevantes que surgem através da história dos personagens. Quando o autor trabalha esses temas em seus livros, ele convida os leitores a pensarem nessas questões, a desconstruir alguns dos seus preconceitos e encarar o mundo real com outros olhos”, conta Cristiano.
Mesmo que o Tio Rick tenha começado do jeito certo, foi (e está sendo) um processo para conseguir representar tudo e todos. “Quando olhamos para Percy Jackson e os Olimpianos, temos pouca diversidade entre os personagens principais, mas isso vai sendo corrigido nas outras obras do escritor, que trazem cada vez mais representatividade para o ‘Riordanverso’”, comenta Cristiano. E acrescenta: “A impressão que dá é que Rick quer que todo mundo seja parte do que ele criou, por isso ele está disposto a ouvir o que os fãs dizem, até mesmo as críticas. E isso é simplesmente incrível”.

Outra pauta que foi bastante repercutida nos últimos meses foi os comentários transfóbicos de J. K. Rowling. Muitos fãs ficaram com o coração partido com tais atitudes e descrédulos. “A comunidade trans precisa de acolhimento e visibilidade e não que uma autora com tanta influência ataque de forma tão mesquinha e cruel”, comenta Alan. Já Chris acredita que esses comentários não influenciam na literatura em si, mas mesmo assim fica triste que uma pessoa tão influente use plataformas para espalhar desinformação. “Por todas as pessoas que cresceram com o trabalho da autora e agora precisam lidar com isso. Você olha nas redes sociais e encontra inúmeros depoimentos de fãs transexuais que estão devastadas, que tiveram um refúgio nesse mundo mágico que ela criou. É um baque muito grande”, acrescenta.

Se por um lado as falas de alguns escritores ofendem uma parcela de seus fãs, por outro tem o Tio Rick e sua personagem Alex, de “Magnus Chase e os Deuses de Asgard”, de gênero fluido; Nico, de “Percy Jackson”, homessexual e apaixonado pelo amigo; sem falar de Apollo, o deus grego que vive amores de ambos os sexos. Tudo isso combinado faz com que Rick Riordan seja um dos escritores mais importantes e influentes na sociedade moderna.

“Rick Riordan me aproximou dos meus melhores amigos. Me fez sentir paixão pela leitura e escrita. E me senti representado em uma literatura. Não só eu, mas vários jovens se sentem abraçados pela escrita desse autor extraordinário. Percy Jackson é um marco na nossa geração e serei extremamente grato ao autor por tudo que ele me proporcionou e ainda continua me proporcionando”, finaliza Alan.

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