Quando a desigualdade toma forma

Todos os anos, milhões de brasileiros se inscrevem em vestibulares. Sendo a prova que abrange a maior quantidade de faculdades públicas, o ENEM atrai todas as idades e cursos. No ano de 2019, mudanças foram feitas na preparação e, durante a correção, o INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais) cometeu um erro, afetando milhares de estudantes.

Criado em 1998, o vestibular tem como função avaliar a qualidade do ensino médio nacional, com foco em perguntas de conhecimentos gerais. Porém, nos últimos anos, a prova deixou de ser sobre lógica e associações, para ser conteudista, como a FUVEST e VUNESP, por exemplo. Para Maria Clara Rodriguez, 18 anos, a prova de 2019 “não cobrou assuntos importantes e foi vazia de importância”.

Sofia Marçal Pereira, 18 anos, conta que 2019 não foi o primeiro ano que prestou o ENEM, mas que sentiu grande diferença entre a prova de 2018. “Na prova de humanas, achei que faltou história e eles cobraram alguns conteúdos diferentes dos outros anos, além de ter sentido que foi menos interpretativa”, declara ela. Além disso, ela também comenta que o vestibular “perdeu algumas características antigas e que o estilo de prova tá divergindo do que as outras faculdades estão começando a fazer”.

Além disso, muitos alunos tiveram as notas afetadas por um erro do INEP. De acordo com o órgão, houve uma confusão na correção, algumas provas foram corrigidas com a cor errada. Por exemplo, a prova de cor amarela acabou sendo corrigida com o gabarito da cor branca. O erro foi identificado logo que os resultados foram divulgados em janeiro deste ano e consta que mais de 5 mil alunos foram afetados. De acordo com o INEP, o erro já foi consertado, no entanto, muitos acreditam que, mesmo não tendo sido notificado, a nota foi prejudicada.

Para Maria Clara, sua nota foi sim prejudicada mesmo constando pelo MEC que não há nada de irregular. “Com o TRI, a prova de linguagens tem a média mais baixa por ser considerada a mais fácil, porém, eu acertei 34 questões na prova, um número relativamente grande, e fiquei com uma nota baixíssima no TRI, o que me faz acreditar que está errada”, conta ela.

Com esse erro, muitos acabaram sendo prejudicados na hora de se inscreverem no Sisu. Quando as vagas foram abertas, algumas notas não sido ajustadas ainda e o prazo para reclamações foi de menos de 24 horas. Para aqueles que trabalham e estudam, ficar sempre antenado nas redes sociais é um luxo e, com isso, perderam o prazo e a oportunidade de entrarem em um universidade.

No Mato Grosso, um grupo de advogados se disponibilizou a ajudar todos os afetados. Em entrevista para o Catraca Livre, o  professor universitário Igor Santos contou que o projeto já conta com mais de 100 pedidos de ajuda, além de terem mais de 35 advogados cadastrados espalhados pelo Brasil. Para eles, já basta termos um sistema de ensino injusto, precisamos igualar as oportunidades de um ensino superior.