Reinventar para sobreviver

foto: raquel kie
No centro de São Paulo, torna-se possível perceber a efemeridade do tempo

Em uma das mais importantes vias do centro de São Paulo, na Rua Líbero Badaró, 340 – assim chamada por causa do jornalista, médico e político assassinado em frente a sua casa graças aos seus ideias liberais, no século XIX – está localizada a Casa Godinho, desde 1888.

O estabelecimento, declarado como primeiro patrimônio cultural imaterial da cidade pelo Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, foi fundado pelo imigrante português José Maria Godinho, inicialmente, na Praça da Sé. Conta com seu bacalhau e empada (premiada pelo Guia Veja São Paulo Comer & Beber) como carro chefe, além de oferecer queijos, vinhos, salgados, condimentos e muitas outras especiarias.

De acordo com o IBGE, homens e mulheres brasileiros gastam em torno de 25% de suas rendas com comida na rua. Ao entrar na Casa Godinho, ver pessoas fazendo refeições rápidas em pequenas mesas no horário do almoço, não é raridade.

O atual dono, Miguel Romano, 59, conta como seus produtos puramente artesanais foram se perdendo com o passar do tempo. “Muitas coisas tiveram de ser retiradas daqui de dentro por conta das exigências da vigilância sanitária”, conta. Linguiças na banha que eram comercializadas; arenque em conserva, não são mais permitidos. “Só industrializado”, afirma o comerciante que nunca exerceu sua formação em Engenharia Química.

“Ainda tem pessoas que vem atrás desses produtos”, declara Miguel. “Muita gente reclama né, ‘ah poxa vida’, mas eu não posso vender, o que posso fazer? Hoje em dia tem a geração fast food. Esse pessoal que mantinha as tradições, que fazia questão desses produtos na mesa, está acabando”, lamenta. Ele afirma que os fast foods não atrapalharam, “na verdade as tradições acabam” e que o segredo, na verdade, é se reinventar: “tivemos que nos reinventar para tentar fazer com que essa nova seção de padaria suprisse a deficiência do setor tradicional”, conclui Miguel.

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