Ruth Escobar e o legado de seu teatro

Espaço localizado no Bixiga é símbolo de arte, luta e resistência

Fundado em 1963, o Teatro Ruth Escobar, localizado no bairro do Bixiga, no centro de São Paulo, representa, para além de cultura, resistência. Ele leva o nome da antiga proprietária, Maria Ruth dos Santos. Ruth Escobar era o nome artístico da atriz que revolucionou as artes cênicas brasileiras.

Ruth era ativista e estava à frente de seu tempo. Acreditava que a arte poderia mudar o país. Teve seu teatro como um grande sonho e deixou seu legado na nossa cultura.

Em 1968, em plena ditadura militar, o teatro foi invadido pelo Comando de Caça aos Comunistas, grupo de extrema direita, enquanto era encenada a peça Roda Viva, de Chico Buarque. Ele foi depredado e artistas foram presos. Durante os anos de chumbo, o local funcionou sob censura.

Myrian Christofani, administradora do teatro na ocasião, conta que naquele tempo eram feitas leituras de textos censurados, sem cobrar o ingresso. As primeiras palestras do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), na época que ele era presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, foram realizadas na sala Gil Vicente do teatro, o que prova que o local sempre foi espaço para a discussão política.

“A Ruth era uma pessoa audaciosa que não tinha medo de nada. Ela era bem arrojada”, diz Max Schiftan, diretor técnico do Teatro Ruth Escobar na década de 90.

Ruth atuou como jornalista, atriz, produtora e diretora de teatro. Lutava por uma cultura inclusiva, que fosse acessível a todos. Foi uma das fundadoras da Frente de Mulheres Feministas do Estado de São Paulo, em 1978, e coordenou o primeiro Festival Nacional de Mulheres nas Artes, em 1982. “Eu acho que a Ruth foi a mais importante figura no teatro brasileiro, como empresária, produtora e mulher”, diz Myrian.

Em 1964, ela criou o Teatro Popular Nacional, um projeto que adaptava um ônibus e o transformava em palco, para levar espetáculos à periferia de São Paulo, ressaltando, assim, seu compromisso com a popularização do teatro.

“Ela adorava trazer as coisas de vanguarda que estavam acontecendo lá fora, para mostrar, não só para o público convencional do teatro, mas, principalmente, para o povo”, completa Myrian.

O legado de Ruth Escobar está marcado na cultura brasileira, pois foi por meio dos seus festivais internacionais que ela conseguiu fazer a ponte entre o teatro brasileiro e o teatro do mundo afora, reunindo montagens internacionais e ajudando a dramaturgia nacional. “Ela sempre fez esse trabalho de colocar o Brasil para conhecer o que se faz no mundo e o mundo para conhecer o que se faz aqui. Foi através dela que eu entendi que havia outros teatros”, conta a professora de Artes Cênicas da Universidade de São Paulo (USP), Alice Yagyu.

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