Uma manobra para alturas olímpicas

A trajetória do skate rumo ao status de esporte olímpico

Quem pensava que o skate era apenas um passatempo juvenil a animar os parques e as ruas da cidade, pode ficar surpreso ao descobrir que ele é muito mais que apenas uma brincadeira adolescente, é um estilo de vida e, mais recentemente, um esporte olímpico. A inclusão do skate nas Olimpíadas foi anunciada em 2016 e já fará sua estreia na edição do ano que vem, no Japão.

O skate nasceu por volta dos anos de 1940, nos EUA, inspirado na prática do surf, tanto que os primeiros modelos pareciam muito pranchas sobre rodas. Sempre associado à contracultura jovem, quem pratica o esporte afirma que é muito mais um estilo de vida. “É sobre criatividade, diversão e rebeldia. Essas coisas que não se encaixam em outros esportes tradicionais. O skate não cabe em um pacote de regras. A gente caminha no contrário a isso, na verdade, foi isso que me fez amar andar de skate por tanto tempo”, explica Karen Jonz, de 35 anos, tetracampeã mundial na modalidade de skate vertical e a primeira a ganhar o ouro feminino nos X Games.

A inclusão do esporte nas Olimpíadas não foi das mais tranquilas e uma das questões foi justamente a preocupação de comprometer o estilo de vida skatista com as regras e normatizações que uma competição olímpica, naturalmente, exige, além de poder descaracterizar o skate transformando-o apenas em competição. Karen opina: “Concordo, em parte, com a polêmica sobre o que uma competição como essa irá trazer para o skate, para o lifestyle. Acho que acaba mexendo um pouco, tanto que a gente já tá vendo uma mudança de comportamento de toda uma galera, uma geração, não só aqui no Brasil. Eles são bem voltados para esse lado esportivo e de ganhar a competição. Mas o skate como lifestyle sempre vai existir. Acho que cabe aos skatistas mais experientes manter essa chama e esse espírito, do skate mesmo, aceso e passar para essa nova geração, que tá nesse negócio de ‘ah, as olimpíadas, as olimpíadas!’, que não é só isso”.

Na hora de definir quem ficaria responsável pelo novo esporte olímpico no Brasil, outra polêmica. A Confederação Brasileira de Skate (CBSk), formada pelos próprios skatistas, há anos defendia os interesses do esporte, mas foi a Confederação Brasileira de Hóquei e Patins (CBHP) a nomeada pelo Comitê Olímpico. “Sempre foi muito claro que a outra confederação era um órgão que viu uma oportunidade e quis aproveitar, mas em nenhum momento eles representaram o interesse dos skatistas. A gente nem conhecia, nem sabia quem era”, comenta Karen. Vários skatistas famosos ameaçaram ficar fora das Olimpíadas caso não fosse a CBSk a responsável pelo esporte. O caso apenas se resolveu quando a Fédération Internationale Roller Sports (FIRS) – reconhecida pelo COI e a quem a CBHP era filiada – e a Federação Internacional de Skate (ISF) – que filiava a CBSk – se fundirem na World Skate, assim a CBSk pode ser escolhida como órgão responsável por estar ligada a uma organização reconhecida pelo COI.

Os atletas chamados pela CBSk para integrar a Seleção Brasileira recebem auxílio para participar das competições e conquistar uma vaga nas Olimpíadas. São duas modalidades: o Park e o Street. Cada uma delas oferece 40 vagas, divididas igualmente entre o masculino e o feminino. Cada continente precisa de pelo menos um competidor nas Olimpíadas e o máximo que um país pode levar são três atletas por categoria. Para classificar-se o skatista precisa estar entre os três ganhadores dos campeonatos mundiais ou entre os três melhores no ranking mundial da temporada de 2019, que começou em janeiro, ou ainda entre os seis melhores da temporada de 2020, que vai de 16 de setembro de 2019 até 31 de maio de 2020.

Não é preciso ser parte da seleção para tentar uma vaga, mas o problema são os custos das competições e das viagens. “Acho que essa questão dos custos restringe um pouco. Mas sempre se dá um jeito. Aqueles que têm mais potencial, é esperado que consigam alguém para patrocinar aquela viagem. É um pouco exclusivo, mas quem tá vivendo a vida em função disso consegue dar um jeito de viabilizar. Ou não, né? Mas acho que todo mundo vai fazer um grande esforço, pelo menos neste ano de janela olímpica, para conseguir participar do maior número de etapas possíveis”, Karen reflete.

Quando perguntada sobre o que poderia ser feito para melhorar a situação do skate no Brasil, Karen diz: “Precisa de mais apoio público, mais skateparks, bons skateparks e  patrocínio. Mas acho que o que mais falta é espaço na mídia para as meninas, porque ainda nos campeonatos, quando tem a transmissão na TV, a prioridade é o masculino, não o feminino. No site de notícias, na grande maioria, quando sai uma notícia é sobre o cara que venceu, não sobre as elas”. A skatista ainda diz que as Olimpíadas foram um incentivo para o feminino: “Para competição de um esporte olímpico, precisa das duas categorias: masculino e feminino. Isso acaba fazendo com que eventos que normalmente não fariam questão de ter as mulheres se sintam mais incentivados a incluir a categoria”, explica.

A própria Karen está na corrida por uma vaga nas Olimpíadas. “Estou participando do circuito pré-olímpico agora, desde o começo desse ano. Participei da primeira etapa do STU, uma etapa nacional. Eu não tenho patrocinadores o suficiente para me bancar durante esse circuito, e não estou na seleção brasileira também. Então, eu vou ter que me bancar.  Competir o ano passado e esse ia ficar muito pesado, então foi estratégico não participar de muitas coisas em 2018 pra me dedicar mesmo este ano. To treinando e estou otimista de que vai ser muito bom”, conclui.

Foto: Tauna Sofia