Ausência que reaproxima

De repente, tudo fica escuro. O computador é desligado, a televisão não emite mais som ou imagem e todos os locais da casa se tornam cômodos apagados. É noite e os postes de luz, anteriormente ligados, não iluminam mais as ruas, que se transformaram em pontos desertos.

Do meu quarto, vejo minha mãe distribuindo e acendendo velas pela casa. Algum ritual religioso? Não, apenas uma forma de iluminar o nosso percurso pela residência. A luz de emergência, guardada em uma cômoda, não havia sido carregada.

Na hora do jantar, as mesmas velas nos encontram na mesa e iluminam os copos, os pratos e os talheres. Durante pouco mais de uma hora, eu, meu pai e minha mãe conversamos como não conversávamos há muito tempo. Sem muitas interferências externas para provocar ruídos e interrupções, falamos sobre a vida, memórias e aproveitamos esse curto período de tempo para nos aproximar um pouco mais.

Nós crescemos e construímos toda a nossa vida em função da eletricidade. Nossos estudos, trabalhos e até relacionamentos estão diretamente conectados a algo descoberto há poucos séculos, mas que permeia todas as nossas vidas até hoje. Quando essa dinâmica é alterada, vemos, mesmo que durante poucas horas, o mundo e as pessoas ao nosso redor de forma única.

Mas, de repente, tudo fica claro novamente. O computador é ligado, a televisão volta a emitir imagem e som e todas as lâmpadas da casa se acendem. Cada um de nós retorna para o cotidiano comum. Uma a uma, as velas são apagadas.

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