Um mundo apagado da janela

Em meio à agitação do dia, eu desacelerei para contemplar o céu da janela. Levantei de minha cadeira depois de horas, fui até a cozinha e peguei uma xícara de café já gelado. Me assustei quando vi que o relógio do micro-ondas apontava para as cinco e quarenta e três da tarde, como que o tempo passou assim tão depressa?

Andei, então, com os passos meio apressados até a sala, e ainda pude assistir o pôr-do-sol. Em minha imaginação o céu estava tão azul quanto o oceano, e as milhares de constelações já começavam a brilhar ao redor da lua minguante que a cada minuto ficava mais visível. Mas sim, isso apenas em meus sonhos acordada, pois os meus olhos viam um cenário completamente desbotado.

Naquela tarde, o vento que passava pelos meus braços despidos não me deixava arrepiada com seu frescor, mas me deixava sufocada com o ar quente, como se eu estivesse passando ao lado de um forno de pizza. E em meio a cidade cinzenta, o azul do céu parecia a feição de um doente com o estômago embrulhado. O amarelo alaranjado do sol parecia uma labareda de chamas.

A cada ano que se passa eu sou ainda mais obrigada a forçar minha mente para imaginar uma cena de conto de fadas. Pois o universo em que vivo encontra-se em um estágio apocalíptico, com milhares de pessoas morrendo todos os dias por um vírus ao redor do mundo, com o pouco verde sendo brutalmente extinguido da face da Terra, e com carcaças de animais queimados no chão. E só de pensar nessa realidade meu coração já se contrai, o meu rosto começa a ser banhado por lágrimas, e o sentimento de incerteza escurece as minhas esperanças de um dia viver em mundo como o de Peter Pan.

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