Mesmos festivais, novas formas

Em 2020, os cinéfilos precisaram achar novas maneiras para se encontrarem e discutirem sobre cinema

Não é novidade para ninguém que o coronavírus afetou profundamente todos os setores da cultura. Shows musicais foram adiados, convenções foram canceladas e eventos esportivos também sofreram as consequências do COVID-19. Na sétima arte, grandes produções tiveram as datas de seus lançamentos alteradas e tradicionais festivais de todo o mundo precisaram debater uma questão: como continuar com esses eventos, que são justamente pontos de encontro entre apaixonados pelo cinema, em uma época de distanciamento social?

Entre os três principais festivais europeus, os efeitos da pandemia foram sentidos de maneira diferente. A Berlinale, na Alemanha, teve sua edição concluída no início de março, ainda início da pandemia, e o Festival de Cannes, programado para acontecer entre os dias 11 e 22 de maio, desistiu de uma edição presencial neste ano e anunciou uma seleção de 56 filmes que devem ser exibidos em parcerias com outros festivais ainda neste segundo semestre. O Festival de Veneza foi o evento cinematográfico que adotou a postura mais diferente em relação à pandemia, já que não alterou suas datas e aconteceu no início deste mês, com várias mudanças devido às medidas de segurança e limitações na escolha da seleção dos filmes. Em Nova York, Tribeca teve sua edição de 2020 cancelada.

Alberto Barbera, diretor do Festival de Veneza e Cate Blanchett, presidente do júri nessa edição – Foto: Tiziana FabiI/AFP

No Brasil, os organizadores também precisaram se ajustar à atípica situação que vive o mundo. A Mostra Internacional de Cinema de São Paulo anunciou que a sua 43ª edição será totalmente online em uma plataforma de streaming exclusiva. De acordo com Barbara Demerov, crítica e repórter do Adoro Cinema, diversos festivais brasileiros acharam formas para se adaptarem. “Além da Mostra, Gramado, o Olhar de Cinema, que é um festival muito incrível e que poucos têm acesso naturalmente, serão ampliados esse ano para o Brasil inteiro. O Ecrã e outros festivais pequenos, como a Festa do Cinema Italiano, também tiveram edições online que bombaram e contornaram muito bem a questão”, comenta a jornalista.

Nesse cenário, é possível perceber que tradicionais festas cinematográficas no país estiveram mais presentes na internet, algumas gratuitas, como forma de serem possíveis em uma época de distanciamento social. Mas será que dá pra prever que uma parte desses festivais continuarão cada vez mais presentes no mundo online nesses próximos anos? Para Barbara, dá para enxergar pontos positivos nessa ampliação com a internet: “Um lado meu prevê que seja possível essa coexistência. Isso amplia muito o projeto que é cada festival e torna a arte muito mais universal, menos seletiva e até elitista”.

Recentemente, o festival De Volta Para o Cinema, que tem como intuito celebrar o retorno do circuito comercial, criou debates na internet por incentivar a reabertura dos cinemas em meio a uma situação complicada do país na pandemia. O projeto, que leva filmes de vários gêneros e épocas para milhares de salas em todo o Brasil, se iniciou no dia 3 de setembro. Segundo a repórter, o debate sobre o retorno aos cinemas no país é um assunto complexo: “Eu acho a ideia muito legal, o projeto também, mas como profissional, não consigo voltar ao cinema nesse momento. Eu entendo muito que tenham inúmeros profissionais que não estão exibindo seus filmes, é uma questão econômica muito complicada”, comenta.

Mas apesar dos receios, é quase impossível um cinéfilo não sentir saudades das salas da sétima arte e do conhecimento e experiência que todos esses festivais promovem. “Por um lado, o que mais quero é voltar ao cinema, mas por outro, é inegável a gente sentir um pouco de medo, pois não sabemos o quão seguro é”, lamenta Barbara.

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